sexta-feira, 20 de abril de 2012

A Lei de Murphy

Hoje trarei a tona uma lei que invariavelmente nos atinge: a famosa Lei de Murphy. Se você já ficou preso em engarrafamentos quilométricos e viu que todas as outras faixas andaram, menos a sua e, ao mudar de faixa, volta a ficar parado, com certeza já foi vítima da aplicabilidade da referida lei. Resumidamente, a lei de Murphy afirma que tudo que pode dar errado vai dar errado.

O curioso é que só lembramos desta lei quando as coisas dão errado. Quando tudo dá certo nem damos bola para ela. Nós, seres humanos, sempre tendemos a enfatizar o lado negativo das coisas, e por isso terminamos por não perceber o lado positivo de certos fatos. Assim, a lei de Murphy acaba invadindo o nosso inconsciente.

Esta lei já virou assunto para livros, sites, filmes, músicas e até mesmo já virou nome de pub. Por falar em pub, vale ressaltar que no Reino Unido, a lei de Murphy é conhecida como Lei de Sod, e diz que qualquer coisa ruim que pode acontecer a um pobre ingênuo irá acontecer.

O interessante é que o Murphy em questão existiu. Edward A. Murphy foi um engenheiro da Força Aérea americana. Embora tenha participado de inúmeros testes de design, foi exatamente em um, do qual participou por acaso, que a Lei de Murphy, tal qual conhecemos hoje, surgiu.

O ano era 1949. Na Base Aérea de Edwards, na Califórnia, famosa por serem o local de pouso de muitos ônibus espaciais, eram conduzidos testes para determinar quantos Gs (força da gravidade) um ser humano poderia suportar. As conclusões dos testes iriam ser aplicadas futuramente em designs de aeronaves. O projeto era conhecido como MX981.

Nos experimentos foi usado um trenó foguete batizado de Gee Whiz que simulava a força de uma colisão aérea. O Gee Whiz andou a mais 320 km/h em um trilho de 800 metros, parando bruscamente em menos de um segundo. Era necessário um voluntário para que se pudesse descobrir quanta força uma pessoa aguentaria. O escolhido, por livre e espontânea vontade, foi o Coronel John P. Stapp, físico de carreira na US Air Force. Durante meses, Stapp andou inúmeras vezes no Gee Whiz.

Não precisa nem dizer que cada volta era um tormento, tendo como consequências ossos quebrados, concussões e até mesmo vasos sanguíneos rompidos nos olhos. Murphy participou de um desses testes, onde levou um conjunto de sensores que poderiam ser presos às cintas que prendiam Stapp no trenó. Os sensores eram capazes de medir a quantidade exata de força G aplicada nas paradas súbitas, possibilitando obter dados mais confiáveis.

Existem várias versões sobre o que realmente aconteceu nesse teste e sobre quem contribui para o nascimento da Lei de Murphy. Todavia, essa versão parece está mais próxima do que realmente ocorreu. O primeiro teste depois que Murphy prendeu seus sensores nas cintas produziu uma leitura igual a zero - todos os sensores haviam sido conectados de forma incorreta. Para cada sensor, havia duas maneiras de fazer a conexão e cada um deles foi instalado de maneira incorreta.

Quando Murphy descobriu o erro, resmungou alguma coisa sobre o técnico (provavelmente um estagiário, que sempre leva a culpa quando acontece algo errado), supostamente responsabilizado pelo estrago. Murphy disse "se há duas formas de fazer alguma coisa e uma delas vai resultar em um desastre, é assim que ele vai fazer" ; Pouco depois, Murphy voltou para o Aeroporto Wright, base onde era lotado.

Mas Stapp, conhecido pelo senso de humor e perspicácia apurados, reconheceu a universalidade do que Murphy havia dito e em uma coletiva de imprensa disse que a segurança da equipe do trenó foguete deveu-se à Lei de Murphy. À imprensa, ele disse que a Lei afirmava que "Tudo que pode dar errado dá errado" . A partir daí, a Lei de Murphy figurou em publicações aeroespaciais e terminou inserida na cultura popular a ponto de se tornar tema de livro nos anos 1970.

Com o passar do tempo, a Lei de Murphy foi sendo aperfeiçoada. Apesar de abordar muito bem o lado negativo e saturado das coisas, ela não se sustenta por si só. Foi por isso que muitos estudiosos terminaram criando suas próprias leis, que não serão abordadas nesse post.

Para finalizar, é necessário notar que a Lei de Murphy resulta do choque entre livre arbítrio e o fatalismo. Primeiramente ela nos revela nossa inegável estupidez, já que se tivermos a chance de fazer algo errado, faremos errado metade das vezes. E isto vem de nossas próprias escolhas. Em segundo lugar, ela também nos revela nossa falta de controle, já que, no exemplo do engarrafamento, sempre ficamos presos na faixa que não anda.

Em tempo, o Major Edward Alvar Murphy Jr morreu em 1990, aos 72 anos. Nascido no Panamá, participou da II Guerra Mundial lutando na Ásia. Com o fim da guerra, regressou aos EUA, aposentou-se da Força Aérea, tendo participado de testes de aceleração de foguetes e trabalhado como piloto particular em pequenos jatos. Trabalhou em sistemas de fuga de piloto em algumas das aeronaves experimentais mais famosas do século XX, tais como o F-4 Phantom, o XB-70 Valkyrie, o SR-71 Blackbird, o B-1 Lancer, e o avião-foguete X-15.

Nos anos 60, trabalhou na segurança e sistemas de apoio de vida para Projeto Apollo, e terminou sua carreira com trabalho em segurança de pilotos e sistemas de operação computadorizada no helicóptero Apache.

Ao ver a Lei de Murphy cair no lugar comum e ser mal interpretada ,terminou mostrando-se infeliz ao ver que suas tentativas de fazê-la ser levada a sério fracassaram.

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