domingo, 14 de dezembro de 2008

Leônico - O eterno biônico




Esse blogueiro que vos escreve é um grande entusista do esporte bretão. Preocupado em manter viva a memória do futebol baiano, firmo o compromisso de vez por outra, abordar os times de futebol da Bahia que aos poucos foram sumindo do cenário mas que permanecem vivos na memória daqueles com (bem) mais ou quase 30.



O primeiro a dar o ar da graça é o querido Leônico, o "moleque travesso" soteropolitano. O clube foi fundado em 03 de abril de 1940 por funcionários da empresa Carl Leoni Company. Daí o nome Leoni Co (abreviação de Company) - Associação Desportiva Leônico.As cores adotadas foram o grená e o branco.



Até 1960, o Leleco, como também é conhecido, disputou os campeonatos amadores organizados pela então Federação Bahiana de Desportos Terrestes. O ápice da equipe foi o campeonato baiano de profissionais em 1966. Aliás, nesse ano começaria a sina de ser "biônico" do Leônico. O Leleco não disputou o 1º turno devido a problemas com a Fonte Nova (o estádio estava fechado devido às péssimas condições de conservação, aliás problema antigo, crônico e eterno). Em protesto, Bahia, Leônico, Fluminense e Galícia recusaram-se a participar do certame.



Em 25 de novembro (curiosamente, mesma data do desabamento de parte da arquibancada em 2007) de 1966, o governo estadual solucionou o problema da "Fonte do Futebol" e os "rebeldes" foram admitidos para participarem do segundo turno. E foi nesse momento que a estrela do Leônico brilhou e a equipe conquistou o título mais importante da sua história.



A Campanha:




23/12/1966 - Leônico 5x0 Estrela de Março

30/12/1966 - Leônico 0-0 Ypiranga

06/01/1967 - Leônico 4-1 Guarany

19/01/1967 - Leônico 1-0 SMTC

17/02/1967 - Leônico 2-0 São Cristovão

23/02/1967 - Leônico 5-1 Galícia

03/03/1967 - Leônico 1-0 Fluminense

08/03/1967 - Leônico 1-1 Botafogo

12/03/1967 - Leônico 1-0 Vitória

27/03/1967 - Leônico 3-2 Bahia


Decisão do Título (melhor de 3)


02/04/1967 - Leônico 2-0 Vitória

09/04/1967 - Leônico 1-2 Vitória

16/04/1967 - Leônico 2-1 Vitória


Vou ficar devendo a escalação da equipe pois não é tarefa fácil. Mas assim que a encontrar, postarei aqui.

"O Leônico era o grande entre os pequenos e tem a admiração dos desportistas baianos.Ganhava os Bernardo Spectors quase todos. Bernardo Spector era uma taça disputada pelos clubes que não entravam no Nacional. Mantinha o emprego da boleirada o ano todo e divertia a galera nas preliminares. O Moleque Travesso ganhava muito torneio início e era time valente" afirma o cronista esportivo Paulo Leandro no site http://www.portalesportivo.com.br/


Em 79 e 85, o Leônico disputou o paquidérmico Brasileirão, disputando 38 jogos, vencendo 13, empatando 6 e perdendo 19. A equipe grená marcou 42 tentos, sofrendo 50, com um saldo negativo de 8. Na década de 80, por força dos regulamentos mirabolantes dos cartolas baianos, o time era sempre biônico nas fases finais.

Além do título de 1966, o Leônico chegou às decisões de 1978 e 1984, perdendo ambas para o Bahia, o tricolor de aço. Porém, foi campeão de 3 Torneios Início (1965, 1975 e 1978).

Entre os maiores nomes que vestiram o manto grená, destacaria Douglas, ídolo também no Bahia, o goleiro Iberê, de visual a la Coalhada e Ronaldo, artilheiro matador, que depois jogaria no Fluminense de Feira.

Depois da morte de João Guimarães o clube foi perdendo força e terminou sendo rebaixado em 1992 para a divisão de acesso do futebol baiano. Depois de fechar as portas e de um longo período de inatividade, a equipe ensaiou uma volta aos gramados. Porém, em 2007 protagonizou um dos maiores vexames da sua história ao tomar 10x0 do Guanambi, valendo pela segundona baiana. Houve queixas de facilitação do jogo por parte do Galícia (concorrente direto por uma vaga na final), além de denúncias de ameaça de morte destinadas ao goleiro do Leônico, que disse ter sido intimidado por torcedores do Guanambi. A polêmica obteve repercussão nacional e foi parar no TJD baiano, que anulou o resultado da partida e obrigou a FBF - Federação Baiana de Futebol - a marcar um novo jogo. Adicionalmente, o "Moleque Travesso" foi suspenso por um ano das competições profissionais por não apresentar médico em algumas partidas do campeonato.


Antes do vexame, as maiores derrotas foram um 6 a 0 para o Botafogo em 1972, um 8 a 1 que o Vitória de Osni, perturbado, emplacou em 1975. O Bahia deu 8 a 1 em 1981, quando o Leônico terminou o jogo com oito em campo. O máximo que o Leônico tinha tomado foi 9 a 0 do Bahia, em 1976, quando o titular ainda era Mickey, antes de Beijoca assumir a missão de levar o tricolor ao título que estava nas mãos do Vitória de Andrada e Fischer, campeão das duas primeiras fases.


Atualmente a diretoria do clube é encabeçada pelo vice-presidente e vereador Antônio Carlos da Silva, mais conhecido como "Bomba.


O livro "Leônico - 50 anos" de Guiovaldo Veiga, filho de Oswaldo Veiga, fundador do clube, é uma verdadeira memória viva do Leleco e do futebol baiano de um tempo que não volta mais.



Semelhanças entre o Leônico e o Juventus-SP:



  1. Ambos usam o grená e o branco como cores dos uniformes - camisa grená, calções brancos e meiões grenás;



  2. Ambos gostavam de aprontar pra cima dos grandes;



  3. Ambos gostam de aproveitar ex-jogadores em atividade em suas equipes;



  4. Ambos tem um título importante em suas vidas: Juventus, campeão da Taça de Prata (Brasileiro da 2º Divisão) de 1983 e Leônico, campeão baiano de 1966;



  5. Ambos tem uma torcida bem pequena e foram fundados por operários;e



  6. Ambos tem o apelido de "Moleque Travesso"



Por hoje é só, mas mais pra frente tentarei trazer mais fatos interessantes sobre o Leleco e de uma época que deixa saudades para os amantes do bom e velho futebol.




sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Quando um Gol faz aniversário


O gol é o momento mágico do futebol, principalmente quando bem trabalhado ou quando acontece num momento decisivo, embora para alguns mais pragmáticos seja apenas um detalhe. O fato é que gols também fazem aniversários, gols também ficam marcados para sempre na memória. E no último dia 3, um gol completou 30 anos. O gol que deu início à geração de ouro do Flamengo e foi o estopim para a fase mais vitoriosa do clube.


Naquele 3 de dezembro de 1978, Flamengo e Vasco decidiam o 2º turno do Campeonato Carioca. Em 1977, o Vasco havia vencido o maior rival nos penaltis e levado o título. No ano seguinte, o rubro-negro já havia vencido o primeiro turno e se conquistasse o segundo automaticamente seria campeão estadual depois de 4 anos. Naquele dia, o Flamengo precisava da vitória para evitar mais 2 jogos entre as duas equipes.


O Maracanã estava lotado, afinal era dia de "clássico dos milhões", mais de 120 mil pagantes acompanhavam a decisão, do lado rubro-negro Zico, Junior, Adílio e Cláudio Adão, do lado cruz-maltino Roberto Dinamite, Abel e o goleiro Leão. O jogo era muito importante, vice em 1977 e tendo feito má campanha no Brasileiro, o título representaria a consagração de uma geração que estava sendo formada dentro do clube mas que até então não havia conquistado nenhum título. O próprio Zico recentemente afirmou que um fracasso representaria o desmantelamento da equipe.


O jogo foi truncado, tendo o Flamengo mais volume de jogo e iniciativa, pois o Vasco estava fechadinho na busca pelo empate, já que era isso que precisava. Leão fechava o gol até os 41 minutos do 2º tempo, quando veio um escanteio dado de graça pelo Vasco. Segundo Zico, a jogada não foi ensaiada, apenas combinada. O time rubro-negro sabia que a zaga vascaína não era forte no jogo aéreo. O acertado era que em dado momento da partida a bola seria alçada na área para ver no que é que dava. O eterno camisa 10 da Gávea foi para a cobrança do tiro esquinado. A bola viajou até o meio da área para a cabeçada certeira e fulminante de Rondinelli, que veio lá de trás, a defesa vascaína apenas olhava para a bola e Abel ( o mesmo Abel Braga treinador) quase não saiu do chão.


O que se viu em seguida foi uma explosão típica de êxtase e barulho ensurdecedor que só um Maracanã lotado e a Nação Rubro-Negra podem proporcionar. O tiro fora certeiro. O Flamengo conquistava o título carioca e depois chegaria ao tri-estadual (1978,1979 e 1979 Especial), conquistaria o Brasileiro de 1980 e arrancaria rumo à Àmerica e ao Mundo em 1981. Esse gol de Rondinelli foi o embrião de inúmeras conquistas e da consolidação do Flamengo como maior torcida do Brasil.


Nos anos seguintes, os cartórios de norte ao sul do país registravam o nascimento de milhares de Rondinellis. O "Deus da Raça" conquistava o seu lugar no Hall of Fame Rubro-Negro e até hoje é reverenciado pela torcida.


Eis a ficha do jogo:


Flamengo 1 x 0 Vasco da Gama

3 de dezembro de 1978, no Maracanã

Árbitro: José Roberto Wright

Público: 120.433

Expulsões: Guina e Zico

Gol: Rondinelli (42 minutos do 2º tempo)

Flamengo: Cantarelli, Toninho, Manguito, Rondinelli e Júnior; Capergiani, Adílio e Zico; Marcinho, Cléber (Eli Carlos), e Tita (Alberto). Técnico: Cláudio Coutinho

Vasco: Leão, Orlando, Abel, Gaúcho e Marco Antônio; Helinho, Guina e Paulo Roberto; Wilsinho (Paulo César) Roberto Dinamite e Ramon (Paulinho). Técnico: Orlando "Titio" Fantoni


E assim com o passar dos anos gols importantes e fantásticos são lembrados pelos amantes do esporte bretão. O gol de Carlos Alberto, na final de 1970 é, talvez, o mais bonito pela construção da jogada, de todos os tempos. O de Maradona driblando meio time inglês no México, em 1986, é uma pintura. O gol de barriga de Renato Gaúcho no FlaxFlu de 1995. O gol de Raudinei no BaxVi decisivo de 1994. O gol de Petkovic no Tri do Flamengo contra o Vasco, de novo, em 2001 e por aí vai. Esses e muitos outros serão lembrados para sempre.