terça-feira, 12 de abril de 2011

A Terra é azul





A TERRA É AZUL
‘’A Terra é azul’’. O autor dessa frase foi o cosmonauta e piloto soviético Yuri Alekseyevich Gagarin que alcançou fama mundial por ter sido o primeiro homem a ter ido ao espaço. A bordo da cápsula Vostok 3KA, Gagarin deu a volta ao mundo em 89 minutos, quase a duração de uma partida de futebol. O lançamento ocorreu no Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, local onde os russos lançam seus foguetes até hoje.

Nascido no dia 09 de março de 1934 em uma fazenda comunitária na cidade de Kluchino, a oeste de Moscou. Era filho de Aleksei Ivanovitch Gagarin e Anna Timofeievna Gagarina, trabalhavam numa kolkhoz (fazenda coletiva).[Os trabalhadores manuais eram descritos nos relatórios oficiais como "camponeses", o que indica que isto pode ser uma simplificação no caso de seus pais - a mãe dele teria sido uma leitora voraz, e seu pai um hábil carpinteiro. Gagarin foi o terceiro de quatro filhos e sua irmã mais velha ajudou a criá-lo, enquanto seus pais trabalhavam.

Gagarin aterrissou, precisamente, às 11h05 do dia 12 de abril de 1961. O local da aterrissagem foi em uma fazenda do Cazaquistão, na época uma das inúmeras repúblicas socialistas soviéticas. Trajando um macacão laranja e capacete branco, após ter pousado de paraquedas, quando recolhia os apetrechos, deu de cara com a proprietária e sua filha, que o observavam boquiabertas: “Não tenham medo. Sou soviético como vocês. Vim do espaço e preciso telefonar para Moscou”. Esse foi o desfecho vitorioso da primeira viagem do homem ao espaço.

No meio da Guerra Fria, esse fato marcou o início da corrida espacial. E os soviéticos largaram bem, sendo os primeiros a lançarem um satélite artificial o Sputinik, o primeiro ser vivo, a cadela Laika, preparando o terreno para o envio de Gagarin. Com isso, os americanos tiveram muito trabalho para ultrapassarem os soviéticos, fato que ocorreu quando do envio do homem à lua.

Enquanto viajava na órbita terrestre à uma velocidade 27.400 quilômetros por hora, o russo fazia história. Mas porque ele foi o escolhido para realizar tamanha façanha ? Ainda jovem, Gagarin passou a interessar-se pelo espaço e planetas. Foi descrito por seus professores em Liubertsi, cidade-satélite de Moscou, como inteligente e trabalhador, e por vezes malicioso. Seu professor de matemática e ciência tinha servido na Força Aérea Soviética durante a Segunda Guerra, o que provavelmente foi uma substancial influência para o jovem Gagarin.

Depois de iniciar um estágio em uma metalúrgica como fundidor, Gagarin foi selecionado para o ensino secundário técnico em Saratov. Enquanto isso, ele se juntou ao "AeroClub", e aprendeu a pilotar um avião leve, um passatempo que assumiria uma proporção crescente de seu tempo. Em 1955, após concluir a sua formação técnica, ele entrou para treinamento de voo militar na Escola de Pilotos de Orenburg. Lá, ele conheceu Valentina Goryacheva, com quem se casou em 1957, após ganhar suas asas de piloto em uma MiG-15. Após formado, foi enviado à base aérea de Luostari em Murmansk Oblast, perto da fronteira norueguesa, onde as condições climáticas tornava os voos arriscados. Ele se tornou tenente da Força Aérea Soviética em 5 de novembro de 1957 e em 6 de novembro de 1959 recebeu a patente de tenente sênior.

Em 1960, foi um dos 20 pilotos selecionados, após rigorosas seleções físicas e psicológicas, para o programa espacial soviético. Alguns aspectos pesaram na sua escolha para ser o primeiro a ir ao espaço, dentre eles destaco a sua excelente performance nos treinos, a sua origem camponesa – que contava pontos no sistema comunista - sua personalidade magnética e esfuziante, e principalmente devido às suas características físicas – ele tinha 1,57 m de altura – já que a cápsula programada para a viagem pioneira em órbita, a Vostok, tinha um espaço mínimo para o piloto.

Os cientistas russos terão calculado erradamente (por duas vezes) a trajectória de aterragem da nave, pelo que a cápsula espacial de Gagarin aterrou a mais de 320 quilómetros do local inicialmente previsto, causando a que no momento da aterragem não estivesse ninguém à sua espera.

Promovido de tenente a major enquanto ainda estava em órbita, foi com esta patente que a Agência Tass soviética anunciou este espetacular feito ao mundo, que assim tomava conhecimento de que entrava na Era Espacial, definitivamente, a partir daquele momento.

Após o feito, Gagarin tornou-se instantaneamente uma celebridade soviética e mundial e passou a viajar pelo mundo promovendo a tecnologia espacial do seu país, sendo recebido como herói por reis, rainhas, presidentes e multidões por onde passava. No Brasil, foi recebido e condecorado pelo então presidente Jânio Quadros com a Ordem do Cruzeiro do Sul.

Gagarin terminou por sucumbir perante a fama e a popularidade, que começaram a afetar a personalidade de Gagarin, que passou a beber constantemente tendo seu casamento afetado por causa disso. Feriu-se num acidente causado pela bebida na Criméia, em companhia de uma jovem enfermeira, em outubro de 1961. A partir de 1962, ocupou o cargo de deputado no Soviete Supremo da União Soviética até voltar ao programa espacial soviético, para trabalhar no design de novas espaçonaves.

Após vários anos afastado, dedicado apenas ao programa espacial, Gagarin voltou ao curso de treino de pilotos, para uma requalificação como piloto de caça nos novos caças MiG da Força Aérea.

Em 27 de março de 1968, durante um voo de treinamento de rotina sobre a localidade de Kirzhach, ele e o instrutor de voo Vladimir Seryogin morreram na queda do MiG-15 que pilotavam, num acidente que talvez venha a ser devidamente explicado agora, quando se comemora o jubileu de ouro do seu grande feito.

A Rússia, aproveitando as comemorações dos 50 anos da ida de Gagarin ao espaço, abriu os arquivos sobre o acidente que vitimou o piloto russo. Uma sonda atmosférica é apontada como a causa provável da morte de Gagarin, Segundo documentos divulgados nesta recentemente, o piloto teria feito uma manobra brusca para desviar do objeto, o que teria provocado o desastre. O caso havia sido classificado como "segredo de Estado" pelas autoridades soviéticas.

Segundo o chefe dos Arquivos do Kremlin, Alexandre Stepanov, " após as análises das circunstâncias do acidente aéreo, a causa mais provável da catástrofe seria uma manobra brusca (do piloto) para evitar uma sonda atmosférica".

A manutenção do segredo desde a época soviética sobre as causas da morte de Gagarin gerou os mais diversos rumores, desde um complô da KGB à hipótese de que ele estaria embriagado.As teorias conspiratórias, aproveitando o segredo do Kremlin, começaram a multiplicar versões, incluindo a manobra de um segundo avião, que teria desestabilizado o MiG-15 de Gagarin, e outros,como um problema técnico com o próprio aparelho. Os que optaram pela tese de complô afirmaram que Yuri Gagarin pode ter sido vítima da KGB ou de outros serviços secretos da época. Outros diziam que o cosmonauta, piloto de formação, muito ocupado com o título de herói e seu papel de propagandista da União Soviética, poderia ter perdido sua habilidade para voar neste tipo de aparelho.

Uma coisa é certa: Gagarin marcou o seu nome na história.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Pra Não Dizer Que Não Falei de Flores


O texto que se segue foi extraído e adaptado de uma matéria da Veja da edição nº 05, de 09 de outubro de 1968. Não sei quem foi o autor. Caso alguém saiba, favor me avisar que colocarei os devidos créditos. O propósito deste post é trazer à tona o grande artista Geraldo Vandré, que sumiu do cenário musical e da mídia após o estrondoso sucesso da canção ‘’Pra não dizer que não falei de flores’’ ou simplesmente ''Caminhando''. Além de ter sido a primeira música (e única, por sinal) que aprendi a tocar no violão, ela vem em mente sempre que o tema ‘’Ditadura Militar’’ é citado. Recentemente li o primeiro dos quatro volumes escritos por Elio Gáspari sobre o tema. Acredito que para as novas gerações esse deva ser um assunto a ser conversado e tornado disponível para leitura, principalmente para explicitar as atrocidades cometidas por aquele regime. É importante que se defenda a democracia acima de tudo, apesar dos péssimos políticos que dispomos.


Só com um violão e uma canção de dois acordes, Vandré fez 20 mil pessoas cantarem ‘’Pra não dizer que não falei de flores.’’

‘’Essa música é atentatória à soberania do País, um achincalhe às Forças Armadas e não deveria ser nem inscrita”, declarou o Secretário de Segurança do Estado da Guanabara, General Luís de França Oliveira, que pediu ao Ministério da Justiça, a proibição da música ‘’Pra não dizer que não falei de flores’’,a canção que fez 20 mil pessoas aplaudirem no Ginásio do Maracanãzinho, durante o III Festival Internacional da Canção.

Na semana seguinte, já em São Paulo, Vandré receberia um bilhete com os seguintes dizeres: ‘’Venha cantar para mim, tenho saudades da liberdade’’. O pedido vinha da líder estudantil Catarina Meloni, presa numa das inúmeras passeatas daquele ano de 1968, ano que nunca terminou. Ao ler e reler inúmeras vezes o bilhete, o trovador paraibano não sabia se ‘’fazia a hora ou esperava acontecer’’. Teria o bilhete sido mesmo escrito por Cataria ou tratava-se de uma cilada dos militares que estavam no poder havia quatro anos?

Geraldo Pedroso de Araújo Dias Vandregísilo, natural de João Pessoa, tinha 33 anos em 1968. Na juventude, foi expulso de dois colégios e aprendeu que a ‘’liberdade é a coisa que mais importa na vida do homem’’. Ele chegou em São Paulo em 1961, ‘’por causa de uma namorada’’. Cantou em programas de auditório, foi corretor de imóveis e a primeira vez que participou de um festival foi em 1965, tendo desempenhado mal e sendo desclassificado com a música ‘’ Sonho de Carnaval’’, de Chico Buarque. No ano seguinte estouraria com ‘’Disparada’’, vendendo mais de 230 mil discos, uma vendagem astronômica para a época. Em 1967, foi desclassificado com ‘’De Como Um Homem Perdeu Um Cavalo e Continuou Andando’’. Ficou marginalizado nos programas de televisão, ‘’onde se usava smoking e dava fama ao artista’’. Em agosto daquele ano, ganhou a Medalha de Ouro na categoria ‘’Intérprete’’, no Festival da Canção de Protesto da Bulgária, mesmo festival que premiou ‘’Che Guevara Não Morreu’’, de Sérgio Ricardo.

‘’A música de Vandré é uma guarânia, ótima para representar o Paraguai, não o Brasil’’, diz o Maestro Gaya, enquanto Vandré ri: ‘’Minha música é uma mistura de rasqueado de beira de praia com canção latino americana’’.Quando vinte mil pessoas aplaudem - incluindo personalidades como Christian Barnard e Francoise Hardy, que vai gravar a canção de Vandré – os protestos sempre aparecem. Ele reconhece que o tom político de sua música ajudou-o na consagração, quando tirou o segundo lugar, disse que ‘’a vida não se resume em festivais’’. Mas afinal o que é um festival para ele? ‘’É uma vitrine onde os compositores expõem suas músicas. E há poucas vitrines hoje em dia, por isso compareço’’.Compara os festivais a’’ um pau de sebo onde os artistas brigam para subir, deixando a música em segundo lugar’’. Quinze mil discos de ‘’Pra não dizer que não falei de flores’’ foram vendidos no lançamento. Para Vandré, isso quer dizer que as portas da televisão se abrem para ele.

A gravadora Vogue irá lançar um LP seu na França e três músicas já foram gravadas: ‘’Che’’, ‘’Porta Estandarte’’ e ‘’Modinha’’. Vandré seria compreendido lá fora? Ele acha que sim: ‘’O compositor deve ser fiel a seu país, pois é a partir dele que será universalmente compreendido’’. Mas no próprio Brasil, Vandré está sendo compreendido de maneiras diferentes. Na noite da primeira segunda-feira em que retornou à São Paulo, ele se apresentou no Teatro Municipal no programa em memória ao poeta espanhol Garcia Lorca. Foi uma noite desorganizada, a platéia se irritou. Vandré cantou sua música campeã mas, quando ia bisá-la, alguém gritou da platéia: ‘’Festivo!’’. Vandré respondeu: ‘’Querem que eu vista fantasia de proletário, não visto não!’’. Na noite seguinte foi ao Festival de Música Universitária, promovido pela TV Tupi e defendeu a canção de um estudante que lembrava muito a sua ‘’Disparada’’. Este festival foi uma verdadeira consagração da música de Caetano Veloso, dos Mutantes, do Maestro Rogério Duprat e de todos os tropicalistas. Essas manifestações, como a opinião do Maestro Gaya, são protestos musicais a Vandré. A do General França e a do presidente do júri do Festival, Donatelo Grieco (que teria escrito na ficha, junto ao nome de Vandré, ‘’left’’, esquerda e na de César Roldão Vieira, ‘’left dangerous’’, esquerda perigosa), puxam a música de Vandré para outras áreas.

Atualmente, Vandré reside em Imbituba, litoral sul de Santa Catarina. Ano passado, concedeu uma entrevista a Geneton Moraes Neto, no programa Dossiê Globo News, que viria a se tornar emblemática, pois fora a primeira entrevista que Vandré dava à um canal de televisão desde 1973. Nessa entrevista, ele critica o cenário cultural brasileiro desde os anos 70 e afirma que seu afastamento da música e da mídia, por assim dizer, não foi causado pela perseguição sofrida pela perseguição que sofreu durante a ditadura militar.

Quem quiser assistir à entrevista acima mencionada pode conferir em http://globonews.globo.com/Jornalismo/GN/0,,MUL1620961-17665-337,00.html