segunda-feira, 14 de maio de 2012

44 anos de espera

Imagine seu time ficar sem ganhar um título nacional por 44 anos. E o pior: nesse período, o seu maior rival foi acumulando títulos e mais títulos, tanto nacionais como continentais e até mundiais. Imagine a angústia dos torcedores de Corinthians (23 anos sem título) e do Botafogo (21 anos na fila). Pois é, 21 + 23 = 44. Pois foi o que viveu a torcida do Manchester City, a metade azul da cidade de Manchester.

Ontem, os citzens encerraram o jejum de 44 anos sem vencer o campeonato inglês de forma dramática. Aliás, foi um verdadeiro teste para cardíaco. Assisti apenas o segundo tempo, mas valeu a pena.

City e United chegaram a última rodada empatados, com 86 pontos, porém o City tinha melhor saldo de gols. Bastava ao City vencer o seu jogo, em casa, contra o Queen´s Park Rangers, que lutava contra a degola. Já o United, por sua vez, tinha que vencer o Sunderland fora e secar o rival. Em Sunderland, Rooney abriu o placar para os devils (placar que não seria alterado). Em Manchester, o City fez 1x0 e foi para o intervalo com a mão na taça.

O segundo tempo em Manchester começou nervoso. Aos 3 minutos, Lescott falhou feio e Cissé empatou para o QPR. Desespero de um lado e alegria do outro. Logo depois Barton acertou Tevez e foi expulso. O City ficava com um a mais em campo. Quem achava que as coisas ficariam mais fáceis para o City se enganou. Aos 21 minutos da etapa final, em um rápido contra ataque, Mackie virou para os Rangers. A equipe estava escapando do rebaixamento. O despero só aumentou.

A partir daí o QPR se fechou, a bola parecia que não ia entrar e o título escapava entre os dados do City. O tempo foi passando e nada. A torcida do Manchester United já comemorava o 20º título inglês.

O juíz deu 5 minutos de acréscimos. Aos 46, o bósnio Dzeko empatou, após escanteio. Aliás, o City fez 15 gols dessa forma. Incrível. Será que daria para virar? Faltavam só 4 minutos e o QPR (no final, os outros resultados acabaram salvando a equipe londrina) parecia que tinha 100 jogadores na defesa.

Aos 49, em uma jogada fantástica do argentino Aguero, contratado no ano passado, aconteceu a virada. Algo que só o futebol pode proporcionar. Êxtase total azul e o fim de um jejum quase cinquentão.

A torcida invadia o campo e a celebração foi sensacional. Há muito tempo não via algo parecido.

Sir Alex Ferguson, treinador do Manchester United, parabenizou os rivais mas não perdeu a oportunidade para alfinetá-los: ''Levarão 100 anos para nos alcançar''.

Com muito dinheiro em caixa, visto que foi comprado por um fundo de investidores dos Emirados Árabes, o City quer conquistar mais títulos, principalmente a Champions League e tentar diminuir a diferença para o maior rival. E com certeza, vai querer que isso aconteça em menos tempo do que cem anos.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Operação Eichmann

Com o a derrota da Alemanha na II Guerra Mundial, os nazistas que não foram presos, mortos em combate ou condenados pelo Tribunal de Nuremberg, fugiram para a América do Sul, especialmente a Argentina.

 O mais famoso deles foi Adolf Eichmann que há exatos 53 anos era sequestrado por agentes do Mossad, levado para Israel e lá julgado e condenado à forca. Essa é uma história que deve ser contada devido à complexidade da operação.

 Eichmann segundo foi apurado após a Segunda Guerra, era o responsável pela logística da ''Solução Final''. Era ele que planejava os roteiros dos trens que levavam judeus para os campos de concentração. Essa função terminou fazendo com que ele fosse um dos nazistas mais procurados junto com Josef Mengele.

Após ser preso pelos americanos na Alemanha e passar por inúmeros campos de prisioneiros, conseguiu fugir adotando o nome de Otto Heninger. Depois de ficar escondido em pequenos vilarejos, decidiu ir para a Áustria e de lá para Itália, onde contou com ajuda da Igreja Católica e de outras organizações que lhes forneceram documentos. Em Gênova, comprou uma passagem de segunda classe no navio Giovanna C. e, em 14 de julho de 1950, desembarcou em Buenos Aires.

 Ao chegar na Argentina, os documentos que portava diziam que ele era Ricardo Klement e foi esse o nome que ele adotou para poder viver sossegado como um imigrante alemão em solo argentino. Todavia, a sorte de Eichmann começou a mudar em 1957 através de Lothar Hermann, um descendente de judeus cujos pais foram mortos pelos nazistas. Ele morara em Buenos Aires e sua filha Sylvia ficara amiga de um rapaz chamado Klaus Eichmann.

Klaus dizia que seu pai havia sido oficial do Exército alemão e que lamentava o fato de Hitler não ter atingido o objetivo de exterminar os judeus. A informação foi processada com desconfiança pelo diretor do Mossad (serviço secreto israelense), Isser Harel, e, durante quase três anos, pouco foi feito para apurar sua veracidade. Porém, novas informações levavam a crer que Eichmann estaria vivendo com a mulher e filhos em Buenos Aires sob o nome de Ricardo Klement, inclusive os filhos estariam, ainda, usando o sobrenome do pai.

O então primeiro-ministro israelense, Ben Gurion, determinou que o Mossad enviasse agentes para a Argentina a fim de confirmar de vez a informação. Zvi Aharoni, usando nome falso e portando passaporte diplomático, chegou a Buenos Aires em 1º de março de 1960. Sua missão: identificar  Eichmann e preparar a sua captura.

Naquela época, qualquer embaixada israelense dispunha de um número de telefone que podia ser usado para contatar voluntários judeus dispostos a ajudar em um trabalho ou investigação, e o mais importante: sem fazer perguntas. Esses voluntários são conhecidos como Sayanim. Um funcionário da embaixada colocou uma relação de voluntários à sua disposição. O escolhido foi “Roberto” (nome fictício), e junto com Aharoni foram até a rua Chacabuco.

Com a desculpa de entregar um carta para Ricardo Klement, Roberto foi ao prédio e descobriu que o apartamento do térreo estava vazio e estava sendo pintado. Klement já havia se mudado. Uma semana depois uma nova pista surgia. Numa oficina mecânica perto da rua Chacabuco trabalhava um jovem com sotaque alemão identificado como Dito. Será que era Dieter, filho mais novo de Eichmann? Nos dias seguintes, Aharoni seguiu-o depois do trabalho até a rua Garibaldi, em uma área meio abandonada, sem água encanada ou energia elétrica, na periferia de Buenos Aires. Mas era preciso confirmar se Dito era mesmo Dieter. No dia 12, Aharoni ordenou que um outro Sayanim chamado “Juan” o procurasse na oficina. Juan voltou com a notícia: “Tenho más notícias. Nós estamos seguindo o homem errado. O sobrenome de Dito não é Klement. É Eichmann”. Aharoni ficou pálido e disfarçou a empolgação pela descoberta.

Porém, faltava achar Adolf Eichmann. Aharoni o viu pela primeira vez em 19 de março,  em frente à casa, viu um homem de meia-idade, magro e calvo, que recolhia a roupa do varal. Perto dele, uma criança de cerca de 5 anos (Ricardo Francisco, filho de “Klement” e Vera, nascido na Argentina). Dias depois, Aharoni mandou um outra colaborador ir falar com Klement com o pretexto de ver se havia alguma casa para alugar. O voluntário carregava uma maleta com uma câmera fotográfica escondida. Várias fotos foram batidas. Em 8 de abril, Aharoni retornou à Israel e comparou as fotos com as que constavam do arquivo do Mossad. Era ele, com certeza.

Em uma reunião entre Ben Gurion e o Mossad foi selado o planejamento da operação de captura de Eichmann visando o seu julgamento em Israel. Era uma oportunidade de fazer com que o mundo e, principalmente, a juventude israelense não se esquecesse do que havia acontecido nos campos de concentração.

 Em 24 de abril, chegaram a Buenos Aires os agentes do Mossad que participariam da segunda etapa da operação, que consistia na captura e traslado para Israel. O que significaria enfrentar os 12.500 km que separavam a Argentina de Israel. Além de Aharoni, agora identificado como um executivo alemão, vieram Avraham Shalom, Yaakov Gat e Efraim Ilani.

Dois dias depois, para não chamar a atenção, desembarcaram Yitzhak Nesher, Zeev Keren (responsáveis por alugar as casas que seriam usadas de esconderijo e os carros para o seqüestro), Zvi Malchin (um homem forte, a quem caberia a missão de segurar Eichmann), o chefe da missão Rafi Eitan, o diretor do Mossad, Isser Harel, mais o médico, identificado apenas como “Doutor”, encarregado de manter o prisioneiro saudável. Por último, chegou Shalom Dany, perito em documentos falsos.

Com o tempo alugaram uma casa que, além de abrigar os agentes, seria o cativeiro. A casa ficava a uma hora de Buenos Aires, em uma localização privilegiada e sem vizinhos bisbilhoteiros por perto. Além disso, possuía um amplo quintal e diversos cômodos, ou seja, caberia todo mundo. Na casa, Keren preparou um pequeno quarto com uma porta secreta onde o prisioneiro ficaria em caso de visitas inesperadas. Eles alugaram dois carros, uma limusine Buick preta e um Chevrolet. Ambos passaram por uma revisão mecânica completa.Por já conhecer melhor a cidade, Aharoni ficou com a tarefa de dirigirir a limusine – o carro onde Eichmann seria colocado.

O alvo da operação continuava sob constante vigilância. Aos poucos foram conhecendo a rotina de Eichmann, que horas ele acordava, que ônibus tomava. O alvo era metódico ao extremo. Descobriu-se que ele trabalhava em uma fábrica da Volks em Buenos Aires e que todo dia descia do ônibus 202 vindo do trabalho às 19h40, hora em que a rua costumava estar vazia. Seria o momento certo de atacar, uma vez que a localização onde o alvo residia (local isolado, em que a presença de gente estranha levantaria suspeita) só dava esta alternativa. Faltava só combinar a data.

Em 27 de abril foi passada uma mensagem à sede do Mossad. Nela era informado que o alvo havia sido identificado e que a situação em campo propiciava o andamento da missão, tornando a captura viável. Também era informada que o alvo continuaria sendo constantemente vigiado. Nesse período, os agentes foram treinando como se daria a abordagem e a imobilização do alvo, colocá-lo no carro e a rota de fuga. Tudo tinha que funcionar perfeiamente. Não haveria margem para erro. Foi decidido, também, que não seriam utilizadas armas, pois poderiam levantar suspeitas.

Devido à complexidade da logística da operação, a idéia era que o intervalo entre o seqüestro e a fuga fosse o menor possível; quanto mais tempo mantendo Eichmann prisioneiro em Buenos Aires, maior a chance de a polícia ser acionada, ainda mais que na época, a Argentina vivia sob a ditadura de Peron. Aí surge um problema. A El Al não fazia voos para Buenos Aires.

A solução foi aproveitar a comemoração dos 150 anos da de independência argentina para o envio de uma representação diplomática israelense chefiada pelo ministro do exterior Abba Eban. A data marcada para a chegada da comitiva era 12 de maio, e a aeronave retornaria a Israel no dia seguinte. O seqüestro foi marcado para o dia 10. Quando se soube que o avião só chegaria no dia 19, a tensão eclodiu e pensou-se até em abortar a missão, porém ficou decidido que a operação seria adiada por 24 horas.

 Em 11 de maio, na hora combinada, 19h25, Aharoni estacionou a limusine na rua Garibaldi. Malchin e Keren saíram do carro e o segundo se escondeu atrás do capô, simulando estar consertando o motor. Um ciclista até parou para oferecer ajuda mas foi dispensado pelos agentes. Rafi Eitan ficou deitado no banco de trás. O Chevrolet, com Avraham, Yaakov Gat e o Doutor, parou um pouco mais longe. Se durante a fuga acontecesse algum problema com a limusine, os agentes e o prisioneiro seriam levados para o Chevrolet.

 Às 19h40, nada de Eichmann. O que teria acontecido? O combinado era esperar até 20h. Às 20h05m, Avraham saiu do carro e vinha em direção à limusine, quando um ônibus parou no ponto e um homem saltou. Era Eichmann. Avraham retornou rapidamente ao Chevrolet e acendeu os faróis para que o alvo não visse a limusine. Aharoni o observava com os binóculos quando ele pôs a mão esquerda no bolso. Seria uma arma? Com um sussurro alertou Malchin: “ Cuidado, ele está com a mão no bolso .Pode ser um revólver”. Aharoni ligou o motor do carro. Três segundos depois, Eichmann passou ao lado de sua janela e foi barrado por Malchin, o único que falava espanhol (que se resumia a ''Un Momentito por favor''). Eichmann não estava armado – nem os agentes. Após um breve embate, ele foi dominado e colocado na limusine, que seguiu pela rua Avellaneda por 800 metros até parar para que Zeev Keren descesse e trocasse rapidamente as placas do carro.

Ao invés das chapas comuns, agora eles tinham novas, azuis, de carro diplomático, para combinar com documentos falsos de diplomata austríaco que Aharoni levava. “Não se mova e ninguém vai machucá-lo. Mas se resistir, atiramos”. Klement ficou em silêncio por uns segundos. Finalmente, respondeu, também em alemão: “Eu já aceitei o meu destino”. O prisioneiro estava deitado no chão, com um cobertor em cima.

Chegaram finalmente na casa. O carro estacionou na garagem e os ocupantes entraram pela porta que dava acesso direto à cozinha. Vendado com óculos de motociclista cobertos com fita adesiva, Eichmann foi levado até o segundo andar, onde um quarto tinha sido preparado para ele. No lugar das janelas, colchões tornavam o ambiente à prova de som. Deitaram-no na cama, despiram-no, e o Doutor examinou seu corpo em busca de cápsulas de veneno. Vestiram-no com pijamas e a perna esquerda foi algemada à cama. O silêncio reinava na casa. Nem os agentes, nem o sequestrado falavam nada.

O interrogatório começou às 21h15. Aharoni fazia as perguntas. Qual era o nome do prisioneiro? Não houve resposta. Aharoni era famoso por repetir as perguntas lentamente, várias vezes, até vencer o interrogado pelo cansaço. Ele repetiu a pergunta e obteve a seguinte resposta: “Ricardo Klement”. E como ele se chamava antes? “Otto Heninger”. A resposta deixou Aharoni intrigado; ele não sabia que Eichmann adotara identidade de Otto Heninger na Europa. Porém as perguntas seguintes tiveram a resposta esperada. Quando era sua data de nascimento? “19 de março de 1906”. Local de nascimento? “Solingen”. E qual foi seu primeiro nome? “Adolf Eichmann”.

Em 20 de maio, o prisioneiro foi avisado de que era hora de partir. Foi vestido com uma roupa semelhante à da tripulação da El Al (camisa branca e gravata preta) e foi sedado. A droga o impediria de falar, mas com ajuda poderia se locomover quase normalmente. Partiram às 21h. O aeroporto estava vazio, não estavam programados outros voos para aquela noite. O carro parou perto do ônibus da companhia – cujos verdadeiros tripulantes não tinham a mínima idéia do que acontecia. Yaakov e o Doutor, também vestidos como tripulantes da companhia aérea, ajudaram Eichmann a subir a escada e entraram no avião com ele. Para todos os efeitos, eram dois membros da tripulação amparando um colega bêbado.

O Doutor sentou atrás de Eichmann e até a decolagem manteve uma seringa espetada em seu braço. Aharoni, Isser Harel e o resto da equipe aguardavam a hora de embarcar, mas o tempo foi passando e nada de eles serem liberados. A imigração argentina vistoriou a aeronave, ao ver Klement, com a roupa de tripulante e dormindo, questionaram o que tinha acontecido. A resposta foi rápida, ''Nosso amigo aproveitou a noite de Buenos Aires e bebeu demais''. Com certeza não era o primeiro caso de tripulante que havia se excedido na noite portenha. Foram liberados. Porém, a torre de controle havia retido o voo. Será que a polícia tinha descoberto o sequestro?

 Descobriu-se que faltava alguma informação no plano de voo. Pouco antes da meia-noite apareceu um funcionário esbaforido pedindo desculpas pelo transtorno. Às 0h04 o avião decolou. Em situações normais, o avião faria uma escala no Brasil para abastecimento. Querendo evitar problemas na América do Sul, decidiram por fazer a parada em Dakar, o que foi feito, quase sem uma gota no tanque. Às 07h20 de 22 de maio, o piloto anunciou: senhoras e senhores, estamos entrando em espaço aéreo de Israel. A missão havia sido cumprida.

Eichmann foi julgado em Israel. O processo começo em 11 de abril de 1961. Contra ele pesavam 15 acusações, incluindo a de crimes contra a humanidade, crimes contra o povo judeu e de pertencer a uma organização criminosa. A polêmica envolvendo o sequestro fez com que a Argentina reivindicasse a quebra de sua soberania e solicitasse a extradição de Eichmann. A diplomacia e a política resolveram a questão.

O julgamento foi transmitido por emissoras de televisão de de todo o mundo. Eichmann ficou sentado ao lado de dois policiais em uma cabine de vidro à prova de balas e de som, enquanto muitos sobreviventes do Holocausto testemunharam contra ele. Condenado a todas as acusações, em 15 de dezembro de 1961, a sentença era o enforcamento. Foi a única pena de morte civil realizada em Israel. O enforcamento ocorreu nos primeiros minutos de 1º de junho de 1962, na prisão de Ramla, nas cercanias de Tel Aviv.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

A Tragédia de Superga

É notório no futebol o surgimento, ao longo dos tempos, de grandes times. Nos anos 60 tivemos o Santos de Pelé, Coutinho, Pepe e etc e o Real Madrid de Di Stefano, Puskas e cia ltda. Nos anos 70, o Ajax de Johan Cruijff, Piet Keizer, Sjaak Swart e Johan Neeskens e o Bayern Munique de Beckenbauer, Müller e Sepp Maier.Atualmente, estamos tendo a oportunidade de ver o Bacelona de Messi, Iniesta, Xavi e Puyol encantar o mundo com um futebol envolvente, vitorioso e ofensivo.

 Porém, existiram dois times que na década de 1940, terminaram esquecidos pela eclosão da II Guerra Mundial e o conturbado período pós-guerra. Um foi o River Plate de Pedernera, Labruna e Loustau , conhecido como La Maquina, que provavelmente seria a base da seleção argentina, que entraria favorita para os mundiais de 1942 e 1946, se estes acontecessem. O outro foi o Torino de Valentino Mazzola, Ezio Loik, Guglielmo Gabetto e tantos outros, tetra campeão italiano (1942/1943,45/46,46/47,47/48) e base da squadra azzura pra Copa de 1950.

 E é justamente sobre o Gran Torino como ficou conhecido o timaço da década de 1940 que trataremos nesse post e que, infelizmente, foi vítima de um trágico acidente aéreo no dia 04 de maio de 1949. O episódio ficou conhecido como a ‘’Tragédia de Superga’’.  

Antecedentes

Em 27 de fevereiro de 1949, a seleção da Itália goleou Portugal por 4 a 1, em Gênova. Admirador de Valentino Mazzola, o capitão português, Francisco Ferreira, se dirigiu ao craque italiano no fim da partida e convidou a equipe do colega – o Torino – para uma partida amistosa contra o seu clube, o Benfica, a ser realizada em Lisboa, por ocasião de sua despedida dos gramados. O meia italiano consultou Ferrucio Novo, presidente do Torino, mas o cartola não se entusiasmou com a ideia pois o campeonato italiano ainda não havia sido decidido e ele temia pelas consequências do cansaço de uma viagem internacional, ainda mais na reta final.

Reza a lenda que Mazzola se comprometeu com o jogo despedida de Ferreira e para convencer Novo a autorizar o amistoso assegurou “vamos lá, nós ganharemos o campeonato de qualquer forma’. Dois meses depois, Mazzola reencontrou Ferreira, para confirmar o amistoso. À época, ainda faltavam nove rodadas para o fim da Série A italiana, ou seja dezoito pontos em disputa (antigamente, a vitória valia 2 pontos). O Torino era líder isolado com cinco pontos à frente da Inter de Milão. Pois bem, o jogo entre Benfica x Torino foi marcado para o dia 3 de maio, quando faltariam quatro rodadas para o término do campeonato italiano. Antes de viajar para Lisboa, o Torino foi à Milão e empatou com a Internazionale. A diferença entre as duas equipes era de quatro pontos.

No dia seguinte, a delegação grená partiu rumo à capital portuguesa. Com escala em Barcelona, o voo enfrentou turbulências, porém sem maiores consequências. Em solo português, os italianos foram recebidos como celebridades. O Estádio Nacional teve bom público. Cerca de 40 mil pessoas foram se despedir do capitão Ferreira e, principalmente, ver o que era considerado por muitos como o maior time do mundo. O Benfica terminou vencendo a partida por 4x3 na que seria a última exibição do Gran Torino.

A aeronave que trazia de volta o Torino era um FIAT G.212. No comando estava Pierluigi Meroni tendo como copiloto Cesare Biancardi. Embora em Lisboa o tempo estivesse bom, o mesmo não podia se dizer na Itália. Foram relatas más condições climáticas em Turim e até cogitou-se pousar em Gênova ou em Milão e de lá seguir de ônibus até o destino final, porém o pessoal queria chegar logo e preferiu encarar o tempo ruim.

O último contato entre Meroni e o Aeroporto de Turim foi às 17h02. Três minutos depois, o aeroporto tentou novo contato, porém sem êxito. Ao mesmo tempo, os padres da Basílica de Superga ouviram um estrondo e viram um clarão. Do lado de fora, um cenário de horror: destroços do avião e corpos desfigurados e carbonizados.

Pouco a pouco, as pessoas foram chegando ao local do desastre. Sauro Toma, o único jogador da equipe que não havia viajado para Portugal, foi um dos primeiros, junto do cartola Ferrucio Novo. Até mesmo Giovanni Agnelli, presidente da arquirrival Juventus, também estava entre os incrédulos que se aproximaram da Basílica. Era o fim do Gran Torino. Era o fim de uma era.

Ao término da investigação, a explicação mais plausível para o acidente foi que o altímetro da aeronave apresentou problemas. Muito provavelmente o piloto achou que voava mais alto do que realmente estava. A tragédia abalou a Itália. Meio milhão de pessoas foram às ruas de Turim para prestar a última homenagem aos jogadores. Até mesmo a intensa rivalidade entre Juventus e Torino deu lugar ao companheirismo e à solidariedade. O funeral, realizado em 6 de maio de 1949, parou a capital do Piemonte, em clima de muita comoção.

Consequências

A tragédia refletiu na Squadra Azzura, cuja base era o Torino. Para a Copa de 50, no Brasil, a Itália teve que armar uma seleção B, que nunca havia jogado junto antes. Muitos apontam que se não fosse o acidente, a Itália seria uma das favoritas ao título e a história daquele mundial talvez fosse outra. Com medo de viajar de avião, os italianos vieram de navio, levando 15 dias para chegar ao Brasil o que comprometeu ainda mais o desempenho na Copa.

Durante o funeral, o Torino foi declarado vencedor do campeonato italiano, Nas quatro partidas que ainda restavam na temporada, o Torino foi representado pelos juvenis do clube e, em respeito à tragédia, os adversários também fizeram o mesmo. Condolências chegaram de vários países. Os argentinos do River Plate foram à Itália para disputar uma partida amistosa contra um combinado de atletas italianos. A renda do jogo foi doada às famílias dos mortos.

No Brasil, quatro dias após a tragédia, o Corinthians vestiu grená para enfrentar a Portuguesa, A renda da partida também foi revertida para as famílias dos jogadores mortos. Em 2011, o Timão voltou a homenagear o Torino ao adotar a cor grená no terceiro uniforme. O fato é que, depois de Superga, o Torino viveu várias temporadas de instabilidade, sendo rebaixado para a segunda divisão italiana na temporada 1958/59, voltando no ano seguinte.

Em 1976, a equipe voltou a levantar o “scudetto” (o último até o momento), mas a conquista não foi suficiente para iniciar um novo período de glórias. Atualmente o Torino vive oscilando entre a Série A e a B, longe das glórias do passado.  

Vitímas

Jogadores 

Valerio Bacigalupo
Aldo Ballarin
Dino Ballarin
Milo Bongiorni
Eusebio Castigliano
Rubens Fadini
Guglielmo Gabetto
Ruggero Grava
Giuseppe Grezar
Ezio Loik
Virgilio Maroso
Danilo Martelli
Valentino Mazzola
Romeo Menti
Piero Operto
Franco Ossola
Mario Rigamonti
Julius Schubert

Funcionários 

Arnaldo Agnisetta
Ippolito Civalleri
Egri Erbstein
Leslie Lievesley
Ottavio Corina

Jornalistas 

Renato Casalbore
Luigi Cavallero
Renato Tosatti

Tripulação 

Pierluigi Meroni
Antonio Pangrazi
Celestino D'Inca
Cesare Biancardi

Outros

Andrea Bonaiuti

Ver também: http://www.calciopro.com/i-grandi-del-passato/4-maggio-1949-torino-piange-i-suoi-campioni/ http://revistainvicto.uol.com.br/scripts/materia/materia_det.asp?idMateria=273&idCanal=23