quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Los 33


O mundo todo acompanha o emocionante resgate dos mineiros chilenos. A impressionante história desses heróis (esses sim, Pedro Bial!) talvez só perca em dramaticidade para os sobreviventes dos Andes ,uruguaios que sobreviveram a uma queda de avião na Cordilheira dos Andes e que ficaram 72 dias dados como mortos (nesse tempo, tiveram que escolher entre morrer ou comer a carne dos companheiros mortos no acidente).

Que lições devemos tirar dessa história heroica? Muitas. Trabalhando em condições insalubres e sem a aplicação de preceitos de segurança no trabalho, os mineiros ajudam a alavancar a economia do Chile, maior produtor mundial de cobre (cerca de 30% das produção mundial). A mineradora para qual eles trabalhavam, enfrenta processo de falência e, segundo a Globonews, há dois meses não paga o salário de seus trabalhadores. Desta forma, com certeza, poucos deles continuarão a trabalhar em baixo da terra, depois que começarem a virar celebridades e serem dissecados pela mídia. Espera-se que sejam revistos os conceitos de segurança que trabalhadores deste tipo de atividade tenham que por em prática.

Seria interessante pensar em como seria se isto tivesse acontecido no Brasil, nesse ano de eleições. Já imaginaram? Evo Morales não perdeu tempo em ir até lá ver o único boliviano do grupo. Chegou atrasado e não pode ver o resgate de Carlos Mamani Soliz, mas nem por isso deixou de dar o seu ‘’apoio’’ aos mineiros. Prometeu até mesmo um emprego ao conterrâneo.

Com demonstrações de nacionalismo, o Chile mostra-se forte o suficiente após ter enfrentado um dos piores terremotos de sua história. E o resgate de los 33, apenas confirma o orgulho de ter experimentado uma operação logística de resgaste muito bem sucedida.

E por falar em 33, são muitas as coincidências com o número no resgate dos mineiros. Além do número de trabalhadores embaixo da terra, 33 é o número oficial de mineiros que morreram até outubro deste ano no país.

Também são 33 os caracteres [contados os espaços] do bilhete enviado pelos mineiros assim que foram encontrados: ‘Estamos bien en el refugio los 33’ [Estamos bem no refúgio os 33]. Até a tarde do domingo passado (10), eram de 33 países os meios de comunicação cadastrados para cobrir o resgate.

E não acabou: foram 33 os dias de perfuração da máquina até chegar ao encontro dos trabalhadores presos.

O número 33 tem simbologia para muitas religiões, e, para os católicos - maioria no Chile-, é a Idade de Cristo.

Por fim, a operação de resgate dos trabalhadores foi batizada de São Lourenço pelo presidente chileno, Sebastian Piñera, em referência ao santo padroeiro dos mineiros.

Trabalhadores mais famosos do mundo nesta quarta, os mineiros receberam óculos Oakley especiais para evitar os danos causados pelo contato com a luz, o que abre uma gama de negócios possíveis a partir desse aval.

Os trabalhadores que recebiam cerca de US$ 1 mil de salário mensal se vêem diante de ofertas tentadoras da mídia e do mercado editorial, sem contar as ofertas de trabalho em si.

Certamente essa história virará livro e, posteriormente, filme. Que seja fiel à realidade e que possamos aprender um pouco mais sobre qual o limite que o ser humano pode suportar.

domingo, 18 de julho de 2010

60 Anos do Maracanazo


Na última sexta-feira, dia 16, comemorou-se o 'Maracanazo', símbolo da melhor campanha do futebol uruguaio, quando a Celeste Olímpica venceu o anfitrião Brasil na final da Copa de 1950. E, no embalo da excelente e, porque não, surpreendente campanha na Copa de 2010, que culminou num honroso quarto lugar, os uruguaios comemoram o renascimento do futebol no país e no resgate de sua tradição no futebol mundial. Assim, nossos hermanos do extremo sul já começam a sonhar com a repetição do feito em 2014.

A mídia uruguaia, como não podia deixar de ser, embarca na onda de otimismo e orgulho recuperado. "Aos 60 anos do Maracanazo e a apenas quatro do Brasil-2014", intitulou na última sexta-feira o jornal 'Últimas Noticias', sustentando que, "com o orgulho celeste bem elevado pela recente campanha na África do Sul, este 16 de julho é diferente dos anteriores".

"Hoje (sexta, dia 16) lembramos os 60 anos do Maracanazo, mas olhando para o próximo Mundial, que será no Brasil. Misturemos passado e futuro para ver no que dá", destacou o jornal em nota dedicada à façanha, lembrada em todo 16 de julho pela imprensa uruguaia.

Naquele 16 de julho de 1950, o Uruguai conseguiu a proeza de calar um Maracanã lotado, com cerca de 200 mil pessoas, ao vencer de virada o Brasil pelo placar de 2x1. A partir daquela data, a épica vitória passou a ser transmitida de geração a geração.

O autor do gol do título, Alcides Ghiggia, lançou uma frase que sintetizou bem o triunfo uruguaio e que entrou para a história: "Três pessoas calaram o Maracanã: o Papa, Frank Sinatra e eu".

Para a final de 50, bastava um simples empate para o Brasil ser campeão. E com amplo favoritismo a seleção brasileira abriu a contagem. O lendário capitão uruguaio, Obdulio Varela, "El negro jefe" pôs a bola debaixo do braço, o que é lembrado como um momento chave que fez com que os uruguaios recuperassem o brio.

Aos 21 minutos da segunda etapa, o Uruguai empatou com Juan Alberto Schiaffino. A virada veio aos 34 minutos, quando Alcides Ghiggia fez o segundo para o Uruguai, dando início à lenda do "Maracanazo".

- Depois do gol, o silêncio foi incrível - lembrou o único remanescente vivo da seleção de 50, além do goleiro reserva Aníbal Paz, que está doente.

Depois de 1950, o Uruguai chegou em quarto lugar, em 1954, na Suíça. Em 1958, não conseguiu se classificar para o mundial na Suécia. No Chile, em 1962, foi eliminado na primeira fase. Em 1966, na Inglaterra, foi eliminado pelos alemães, nas quartas-de-final, com uma goleada de 4x0.

Aí veio o mundial de 1970, no México. Os uruguaios chegaram na semi-final e enfrentariam o Brasil. Eles acreditavam que por terem sido campeões em 1930 e 1950, repetiriam o feito em 1970. Tudo levava a crer que a Celeste levaria a melhor, pois sairam na frente com um gol de Cubilla. O Brasil sentia o fantasmo de 50 rondando. Depois do empate no final do primeiro tempo com Clodoaldo e depois da bronca de Zagallo no intervalo, o Brasil virou a partida e venceu por 3x1.

Esta seria a última grande campanha uruguaia em copas.Depois foram pífias participações e longos períodos de ausência.É importante frisar que aquele quarto lugar em 1970 foi recebido como derrota, pois os uruguaios tinham uma seleção forte. Quarenta anos depois, o quarto lugar na África do Sul, levou centenas de milhares de uruguaios - em um país de 3,4 milhões de habitantes - a tomarem as ruas de Montevidéu para festejar sua seleção de futebol.

Na chegada da equipe na semana passada, os uruguaios lembraram das glórias passadas e passaram a mira a Copa do Mundo de 2014.

"Se hoje no Brasil houver um campeonato, há um único país que pode vencê-lo: Uruguai!", dizia um dos motoristas enquanto, em meio ao repique de tambores, o público cantava em coro: "Voltaremos, voltaremos! Voltaremos outra vez, voltaremos a ser campeões, como na primeira vez!".

Agora resta a pergunta: Será que o raio uruguaio cairá duas vezes no Maracanã?

segunda-feira, 5 de abril de 2010

SU 593


O voo SU 593 da Aeroflot fazia a rota Moscou – Hong Kong. Em 23 de março de 1994, era operado por um Airbus A310, matrícula F-OGQS, o mais novo dos cinco comprados junto à Airbus. A caixa preta e o flight data recorder revelaram que o filho do piloto, Eldar Kudrinsky, de 15 anos, enquanto sentara na cabine, sem querer desligou o piloto automático do avião. Tanto o piloto como o co-piloto não perceberam o fato, que ocorreu sem ter havido nenhum alarme sonoro.

Vamos aos fatos. A aeronave decolara do Aeroporto Internacional Sheremetyevo (SVO) com destino ao antigo Kai Tak Airport (Hong Kong). A maioria dos passageiros eram empresários daquela localidade e de Taiwan que estavam em busca de oportunidades na Rússia.

A tripulação técnica era composta pelo comandante master (responsável pelo vôo), Andrei Danilov, 40 anos, 9.675 horas de vôo e 950 horas no comando dos A310. Comandante Yaroslav Kudrinsky, 39 anos, 8.940 horas de vôo e 750 no comando dos A310. Primeiro oficial Igor Piskarev, 33 anos, 5.855 horas de vôo, e apenas 440 horas como co-piloto nos A310. Com mais nove comissários (as) e 63 passageiros o número de pessoas a bordo era de 75 pessoas.

Kudrinsky levava seus dois filhos no que seria a primeira viagem internacional de ambos. A Aeroflot permitia que os familiares dos pilotos viajassem a um preço bem acessível uma vez por ano.

Após 4 horas de voo, Danilov passou o comando para Kudrinsky e foi descansar. Com o piloto automático ativo, Kudrinsky, contrariou as normas, oferecendo aos filhos que ''pilotassem o Airbus. Primeiro foi a filha Yana, de 13 anos. Kudrinsky ajustou o piloto automático para dar a impressão de que ela comandava o avião, embora na verdade ela não tinha controle sobre o mesmo. Em seguida, foi a vez do filho mais velho, ''pilotar''. Ao contrário da irmã, Eldar aplicou força suficiente na coluna de comando. Eldar girou o manche pelo menos 3 ou 4º, antes que seu pai digitasse nos comandos do painel a proa anterior e re-selecionasse o modo NAV no piloto automático. Foi nesse exato momento que o destino do A310 foi selado.

A ação de Eldar foi forte o suficiente para desconectar os comandos de ailerons do piloto automático.Para Kudrinsky e Piskarev, tudo parecia normal, mesmo porque no A310, não há nenhuma indicação de desligamento dos ailerons do sistema central do piloto automático.Resultado: o controle de rolagem sobre o eixo longitudinal (roll) já não era mais comandado automaticamente.

Depois de atingir 20º de inclinação, a razão de rolagem aumentou de um para 5.5º por segundo.O A310 continuava a girar. Quarenta segundos após Kudrinsky acionar o modo NAV no piloto automático, a aeronave atingiu 45º de inclinação. Eldar notou algo estranho, e vendo o horizonte artificial inclinar-se à sua frente, perguntou ao pai:

Porque ainda está virando?
Kudrinsky: Está virando sozinho?
Eldar: Sim, está!

Nesta hora os pilotos começaram a questionar como e porque o Airbus estava "virando sozinho."

Makarov: Está girando mesmo. Deve ter entrado em algum tipo de zona de espera. (holding zone)
Piskarev: Está mesmo entrando numa "holding zone."
Kudrinsky: É mesmo?
Piskarev: Claro que está!

O piloto automático começou a trabalhar junto com o autothrottle (sistema de controle automático de potência) e acelerar os motores do Airbus, tentando manter o nível de vôo, apesar da sustentação ficar cada vez menor, devido ao supramencionado ângulo de rolagem.

Nesse momento, o avião já havia passado de 50º de inclinação. Makarov, então, reagiu à inclinação do jato,gritando assustado:

- Ôôô pessoal!

Foi nessa hora que a aeronave entrou em pré-estol. Sem sustentação, o jato não mais conseguia voar normalmente. O nariz do A310 apontou para cima abruptamente e Kudrinsky gritou para Piskarev:

- Segure! Segure a coluna de comando!

A força da gravidade fez com que não conseguisse alcançar os comandos, ainda mais por ter até apenas 1,60m de altura. Eldar, ainda sentado na poltrona do comandante, achou que a ordem de seu pai era para ele e agarrou firmemente o manche e o manteve seguro numa posição próxima da neutra, o que manteve o Airbus na mesma situação: rolando asas.

O A310,então, efetivamente estolou. A uma altitude de 33.000 pés, o jato simplesmente despencou, descontrolado, sem que Piskarev conseguisse alcançar o manche e os pedais. Nesta hora, uma terrível cacofonia instalou-se na cabine, com os alarmes de altitude, piloto automático e estol soando ao mesmo tempo. Em meio ao caos, Eldar, aterrorizado, tentava fazer alguma coisa. Ele girou o manche com força, o que efetivamente desconectou de vez todos os controles do piloto automático.


Makarov, Piskarev e Kudrinsky, imobilizados em suas posições pelo pronunciado mergulho, gritavam simultaneamente instruções conflitantes, confundindo ainda mais Elder:

Makarov: Vire para a esquerda!
Piskarev: Para o outro lado!
Kudrinsky: O outro lado!
Makarov: Para a esquerda!
Piskarev: Puxe! Puxe!

Com o desligamento do piloto automático, outro sistema da aeronave entrou em operação. Em jatos da Airbus, o computador que governa o FMS - Flight Management System - é desenhado para impedir manobras bruscas ou atitudes anormais. Esta proteção adicional entra em ação automaticamente, toda vez que o computador registra em seus sensores alterações de atitude da aeronave potencialmente perigosas a um vôo normal. Ou seja, o computador assume para sí a responsabilidade de devolver à aeronave uma condição de vôo nivelado, "normal," em casos de manobras bruscas. Em casos assim, o computador, a bordo de jatos da Airbus, tem a última palavra, cancelando gestos ou manobras dos pilotos que ele considere bruscas demais.

Assim, tão logo o nariz do Airbus ergueu-se no estol, o FMS tratou de contrabalançar o efeito e automaticamente comandou os profundores de maneira a abaixar o nariz. As ações desajeitadas de Eldar no manche em nada ajudavam, e de uma condição de nariz para cima, o Airbus entrou num mergulho acentuado, com o nariz 40º abaixo do horizonte. A velocidade cresceu de forma espantosa, até porque os dois motores continuavam regidos pelo autothrottle para a razão de vôo de cruzeiro. Agora o Airbus, numa fração de segundos, despencava acelerando rumo ao solo, a mais de 800km/h.A razão de descida nesse momento era de 70m/segundo ou 13,870 pés por minuto.

Piskarev ainda não conseguia chegar com seu assento mais próximo aos controles e simplesmente gritava para Eldar, vendo o solo aproximando-se cada vez mais:

- Vire para a esquerda! Vire para a esquerda!

O comandante Kudrinsky, tentando voltar à sua poltrona, gritava desesperado para seu filho:

Kudrinsky: Saia daí! Saia daí! Saia daí!

Piskarev finalmente havia conseguido agarrar o manche e retomar, ao menos provisoriamente, o controle do Airbus. Ouvindo o ensurdecedor alarme de excesso de velocidade, ele tratou de trazer as manetes de potência para a posição de marcha lenta, ao mesmo tempo que puxava completamente o manche, tentando tirar o Airbus do mergulho em que se encontrava. Talvez ainda sob o efeito do caos na cabine de comando, ele continuou puxando o manche além do que devia. Com os motores em marcha lenta, o Airbus não só saiu do mergulho, como novamente assumiu uma atitude extrema, com seu nariz alto demais.

Só então Piskarev percebeu que sua velocidade havia caído para apenas 180km/h ou 97 nós. Num tom de voz quase histérico, pôs-se a gritar para Kudrinsky, que finalmente retornava à poltrona da esquerda no cockpit:

- Potência máxima! Potência máxima!

Eram 00h56:54, O Airbus e seus ocupantes teriam ainda outros 67 segundos de vida. Sem potência nos motores, por incrível que pareça, o A310 estolou mais uma vez. Rapidamente, sua asa direita afundou, o nariz apontado para o solo num mergulho vertical (ângulo de 90º), a aeronave girando descontroladamente, em parafuso.

Kudrinsky pôs-se imediatamente a tentar controlar o parafuso, golpeando os dois pedais para tentar interromper as rotações contínuas no eixo lonitudinal. Piskarev, talvez em transe, mantia o manche puxado contra seu peito, como se sua ação pudesse reconduzir o Airbus à sua altitude de cruzeiro. Na realidade, só conseguiu fazer com que o nariz permanecesse 20º abaixo da linha do horizonte. Com dois pilotos experientes finalmente no comando, a razão de descida foi parcialmente reduzida e os esforços de Kudrinsky para controlar os parafusos do Airbus também surtiram efeito. O relógio digital na cabine marcava 00h57:56.

Mas aí já era tarde demais. Quando o jato estava quase conseguindo sair de seu mergulho, apenas cinco segundos após as asas finalmente terem sido niveladas, com o nariz ligeiramente abaixo da horizontal e em altíssima velocidade, o Airbus encontrou seu fim próximo à cidade de Novokusnetz. O A310 colidiu violentamente contra um morro de 600m de altura, cheio de altas coníferas e naquele momento, coberto por uma camada de neve de mais de um metro e meio de espessura. Explodiu imediatamente, matando todos os seus ocupantes numa fração de segundo. Eram 00h58:01. A vertiginosa queda havia durado 129 aterrorizantes segundos.

Praticamente nenhuma parte identificável do jato, bem como de seus ocupantes, foi resgatada do local do acidente, a despeito do governo russo ter mobilizado 238 homens, 4 aviões e 3 helicópteros na operação de resgate.

Tão logo as caixas pretas foram analisadas e seu conteúdo divulgado para a imprensa, todos os esforços de reconstrução da péssima imagem da Aeroflot foram perdidos. Uma máquina de 70 milhões de dólares, 150 toneladas de aço e alumínio, 75 vidas estupidamente interrompidas na solidão gelada da Sibéria.

Embora seja comum as empresas substituirem os números de voos envolvidos em acidentes fatais, a Aeroflot manteve o voo 593 para a rota Moscou – Hong Kong. O serviço opera duas vezes por semana (sábadoedomingo). Voos adicionais adotam os números 595 and 591.

Fonte: Jetsite (www.jetsite.com.br)

terça-feira, 9 de março de 2010

O destino do Mara Hope


Estados Unidos, 7 de novembro de 1983. O petroleiro Mara Hope ancorado no Texas sofre por quatro dias um incêndio. A embarcação ficou condenada ao desmonte, a ser realizado em Taiwan, na Ásia, para onde seria levada por um rebocador. O problema é que a viagem acabou, na América do Sul, mas precisamente, em Fortaleza, após problemas mecânicos há exatos 25 anos.

Em 6 de março de 1985, o navio rebocador apresentou problemas, ao longo da costa brasileira. Ainda em março, ancorado no Porto do Mucuripe, o petroleiro foi à pique uma milha em meia ao enfrentar uma forte chuva, com maré alta, vindo a encalhar. Todas as tentativas de recuperação foram em vão.

A sucata do Mara Hope hoje está encalhada a aproximadamente 700 metros da Ponte Metálica. Um dos melhores pontos de visualização é a Igreja de Santa Edwirges, na avenida Leste Oeste. Frequentemente, banhistas e curiosos seguem até os restos do navio para mergulhar e contemplar a cidade por outro ângulo, mesmo com a estrutura precária.

De acordo com a Capitania dos Portos, o Mara Hope hoje é propriedade da União, assim como qualquer outro navio naufragado na costa brasileira. Mas não há intenção de resgatá-lo. Seria até possível tecnicamente, mas os custos são muito elevados, conforme a Capitania dos Portos.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A guerra que não acabou







A Segunda Guerra Mundial, sem sombra de dúvida, foi um conflito marcante, com inúmeras estórias de superação, dificuldades e provas de como o homem pode suportar as mais terríveis provações. Existe uma estória em particular que eu só fui descobrir muito recentemente através da Wikipedia e suas efemérides.

O post de hoje irá trazer à tona a fantástica estória de Shoichi Yokoi, um soldado japonês que ficou famoso mundialmente ao ser encontrado escondido em Guam, uma ilha do pacífico, em 1972 e que achava que o Japão ainda estivesse em guerra com os EUA..


Nascido em Saori, em 31 de março de 1915, Yoki alistou-se no Exército Imperial em 1941. Em seguida, foi enviado à ilha de Guam, que na época encontrava-se sob domínio nipônico. Em 1944 os norte-americanos recuperaram a ilha. Foi aí que Yokoi entrou selva adentro para evitar cair nas mãos do inimigo. Vale ressaltar que muitos japoneses seguiram o mesmo caminho mas todos foram capturados ou mortos.


Na vida escondida, Yokoi adotou a estratégia de viver em uma toca, só saindo para caçar à noite, evitando aparecer durante o dia. Desta forma, usava vestes feitas com plantas nativas e armazenava tudo que necessitava dentro da toca.Yokoi morria de medo de ser morto caso fosse descoberto pelos nativos, uma vez que os japoneses, durante a guerra, cometeram diversas atrocidades contra a população local.


Durante 27 anos Yokoi viveu escondido em uma parte desabitada da ilha. O curioso é que ele sabia do fim da II Guerra Mundial através de folhetos mas mesmo assim jamais cogitou se entregar.


Em 24 de janeiro de 1972 Yokoi foi descoberto por dois caçadores locais: Jesus Duenas e Manuel DeGracia. Eles estavam checando armadilhas para apanhar camarões. No início eles pensaram que se tratava de um local, mas em seguida o identificaram como japonês e, após intensa luta, o capturaram. Para DeGracia não foi nada fácil pois soldados japoneses haviam assassinado sua sobrinha após a Batalha de Guam. Duenas teve muito trabalho para convencer o seu companheiro de caçada a não matar o japonês.


Ao chegar ao Japão carregando o seu rifle de combate, Yokoi proferiu um frase que ficou célebre: “Foi muito constrangedor para mim ter retornado com vida”. Imediatamente ele virou celebridade, com direito a reportagens em toda a mídia mundial. Neste período midiático ele despertou a curiosidade e a simpatia de milhões de conterrâneos. Ele confessou que tinha fortes e profundos motivos para se manter isolado da civilização por tanto tempo. A sua infância fora muito dura e seus parentes eram muito rudes.Passada a febre, Yokoi casou, formou-se em direito e foi morar na zona rural de Aichi. Em 1977 foi ao ar um documentário sobre sua vida, com o título Yokoi and His Twenty-Eight Years of Secret Life on Guam (Yokoi e Seus Vinte e Oito Anos de Vida Secreta em Guam).


Em 1991, aos 75 anos de idade e dezenove anos após seu reaparecimento, Yokoi foi recebido em audiência pelo Imperador do Japão, Akihito. Reza a lenda que o bravo soldado chegou a preparar um discurso de arrependimento a ser lido para Sua Majestade.


Yokoi morreu em 1997, em Nagoia, aos 82 anos, de ataque cardíaco, no dia 22 de setembro. Ele foi enterrado na mesma sepultura de sua mãe, enterrada em 1955, quando ele ainda estava escondido nas selvas de Guam.