sábado, 25 de janeiro de 2014

Tenente Rogers e sua incrível história








Recentemente assisti ao filme Caminho da liberdade (The Way Back, 2010), com Jim Sturgess, Colin Farrell, Ed Harris, dentre outros. O filme relata a odisseia de um grupo de prisioneiros de um Gulag na Sibéria que, em 1941, andaram mais de 6.500 quilômetros, passando pelo deserto de Gobi (Mongólia), Tibete e Himalaia, até chegar à Índia, no inverno de 1942. Embora no início do filme conste o aviso de que o mesmo é baseado em uma história real, fiquei intrigado e comecei a pesquisar sobre o livro que inspirou o filme.

O livro em questão é ‘’The Long Walk (1955) de Slawomir Rawicz, um polonês feito prisioneiro pelos soviéticos em 1941. Ao pesquisar no google,  li que em 2006, a BBC publicou um relatório baseado em antigos arquivos soviéticos, incluindo textos que teriam sido escritos pelo próprio Rawicz, mostrando que ele próprio teria sido libertado, em 1942, como parte de um acordo de anistia entre soviéticos e poloneses e em seguida teria sido transportado pelo Mar Cáspio até um campo de refugiados no Irã e, portanto, a fuga até a Índia nunca teria acontecido.

Em maio de 2009, Witold Glinski, um veterano de guerra polonês vivendo no Reino Unido, apareceu dizendo que a história de Rawicz era verdade, só que, de fato, teria acontecido com Glinsk ao invés de Rawicz. 

Enquanto se discute a paternidade de que realmente realizou o grande feito, acabei me deparando com uma estória parecida e  que conta a incrível saga de sobrevivência de um herói de guerra polonês durante a II Guerra Mundial e que morreu aos 91 anos, em fevereiro de 2013.

O Tenente Czeslaw 'Tony' Rogers enfrentou  uma viagem de 1.350 quilômetros a pé, através dos desertos gelados da União Soviética até à Índia depois de ser libertado de um gulag. Depois, andaria ainda mais, de trem e por outros meios, até chegar à Grã-Bretanha.

Posteriormente, ele seria um piloto condecorado da RAF, pilotando Spitfires  e bombardeiros Lancasters, voando em missões ousadas contra alvos na Alemanha.

Tenente Rogers, que adotou o sobrenome Inglês de seus heróis do cinema Roy e Ginger, entrou na guerra em 1939, quando seu país natal se tornou um alvo para a opressão após o pacto de não agressão entre Hitler e Stalin, que terminaria na invasão alemã.
 
Quando a Luftwaffe dizimou a frota aérea polonesa, pilotos como Rogers receberam  metralhadoras e foram convocados para lutar, em solo,  contra as forças alemãs que  invadiram o país pelo oeste, enquanto os russos avançavam pelo leste. Roger terminaria sendo feito prisioneiro pelos russos e enviado para um gulag na Sibéria, condenado a 25 anos de prisão.

O traslado para o gulag foi feito em  um caminhão de gado, em uma viagem que levou três dias.  Havia mulheres e crianças nos caminhões e sempre que uma criança morria no trajeto, seu corpo era simplesmente jogado na neve.

Após a invasão da Rússia por Hitler em 1941, Stalin aliou-se à Grã-Bretanha e aos EUA contra os alemães. O primeiro-ministro britânico Winston Churchill pediu a libertação de cidadãos polacos da Sibéria e Rogers foi um deles. Os guardas abriram os portões do gulag e disseram para os prsioneiros saírem. No início, eles pensaram que era alguma ‘’pegadinha’’  e quem  saisse seria abatido a tiro. Mas eles partiram em grupos de dez, em  trenós feitos especialmente para as condições climáticas adversas. No grupo de Tony ele e outro aviador sobreviveram, os outros pereceram na neve.

Tony e seu companheiro caminharam 830 milhas a pé, antes que pudessem entrar clandestinamente  em um trem indo para o sul, onde chegariam na Índia, de onde ele conseguiu passagem para a Grã-Bretanha.  
Vale destacar que um grande número de pilotos poloneses, após a invasão da Polônia, iria para o Reino Unido e França, continuar a luta contra os alemães. Em junho de 1940, o governo polonês no exílio formou  uma Força Aérea polonesa no Reino Unido, com dois esquadrões de caça - 302 e 303 - compostas por pilotos poloneses e pessoal de terra, com comandantes britânicos. A maioria dos pilotos poloneses possuia centenas de horas de experiência de vôo pré-guerra e estava entre os mais experientes na batalha. Eles haviam aprendido com a experiência de combate bem de perto.

Uma vez na Inglaterra, com o seu novo nome adaptado ao idioma local, Rogers conheceu Nan, uma motorista da WAF, que se tornaria sua esposa e mãe de seus dois filhos.

Durante o resto da guerra, ele voou em Spitfires da RAF antes de ser convocado para o Comando de Bombardeiros para pilotar o Lancaster por causa de sua experiência na Polônia em voar em aeronaves do tipo bimotor. Ele se juntou ao 138º Esquadrão de Operações Especiais (Moonlight Squadron), baseado em Cambridgeshire.
 
Em 1944, ele voou em uma missão de abastecimento em Varsóvia - em um Halifax ou Stirling - voando baixo para jogar suprimentos em  para-quedas, incluindo armas, explosivos e aparelhos de rádio em um locais estratégicos,  onde as luzes piscavam para indicar a localização exata. Caças alemães estavam à espera dos aviões  subirem, mas eles mantiveram o voo  baixo , porém  muitas equipes foram perdidas e as missões foram interrompidas depois de se revelarem muito arriscadas.

Os pilotos poloneses alegam terem abatido  201 aviões. Somente o 303º Esquadrão, em que o brigadeiro Tadeusz Sawicz serviu, foi o responsável pelo maior número de mortes - 126 – entre todos os esquadrões aliados na Batalha da Grã-Bretanha.

O Polish War Memorial, situado  nos arredadores da sede da RAF, em Northolt, foi inaugurado em 1948 como um tributo à contribuição polonesa  junto aos aliados.

Rogers continuou a servir no Comando de Bombardeiros voando em Lancasters  até 1948, quando passou para a reserva.  Estão registrados no seu assentamento funcional, 12.000 horas de voo em uma variedade de tipos de aeronaves, dentre elas os já citados Spitfires e Lancasters, além de Wellingtons e jatos Meteoro, após o fim da guerra.

Rogers seria agraciado com importantes comendas e a maior das condecorações polonesas, a Virtuti Militari. Além das medalhas, Rogers era sempre convidado de honra em jantares comemorativos da Batalha da Grã-Bretanha, onde sentava na mesa principal com o comandante.

No início de 1950, Rogers e sua família foram para Cingapura, onde ele assumiria o posto de piloto pessoal do General Sir Gerald Templer, Alto Comissário britânico na Malásia durante a insurgência comunista. Uma de suas atividades no novo posto era a de voar em aeronaves leves, tais como o Auster, para detectar atividades dos guerrilheiros na selva malaia, dando cobertura às tropas terrestres no combate.

Rogers acabou sofrendo um acidente vascular cerebral em que acabou perdendo os movimentos, sendo ajudado pelo  Fundo Benevolente da RAF que o presenteou com  uma cadeira de rodas elétrica. Rogers terminaria sendo um grande doador deste fundo visando ajudar os velhos companheiros de RAF.

Rogers faleceu em 15 de janeiro de 2013 na  Hyperion Nursing Home em Fairford, Gloucestershire.