segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Quando Niterói e o Brasil encontram Santa Maria

O Brasil acordou ontem com a notícia da tragédia da Boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. No triste evento morreram mais de 230 (o número pode subir) e mais de 100 feridos. Fruto da nossa ancestral falta de cultura de segurança, onde mostramos que só fechamos a porta depois de roubado.

A tragédia de Santa Maria foi o segundo maior incêndio em vítimas fatais do pais. O primeiro lugar é ocupado pelo incêndio do Gran Circo Norte Americano, ocorrido em 1961, em Niterói, Rio de Janeiro, onde morreram mais de 500 pessoas, na sua grande maioria crianças.

O circo chegou em Niterói no dia 08 de dezembro de 1961, estreando uma semana depois. Era tido como o maior e mais completo circo da América Latina, dispondo de sessenta artista, vinte empregados e 150 animais. Foi montado no centro da cidade, na Praça do Expedicionário.

A versão oficial é de que a montagem demandava tempo e muita mão de obra. Foram contratados cinquenta trabalhadores avulsos para a montagem. Um deles, Adílson Marcelino Alves, conhecido como Dequinha, tinha antecedentes criminais e problemas mentais. Ele trabalhou dois dias e foi demitido pelo dono do circo, Danilo Stevanovich. Após o ocorrido, Dequinha ficou inconformado e passou a rondar o circo.

No dia da estréia, o circo estava com lotação esgotada e a venda de ingressos foi suspena. Nessa noite, Dequinha tentou entrar no circo sem pagar, mas foi visto e impedido pelo tratador de elegantes.

No dia seguinte, um sábado, Dequinha voltou e começou a procurar Maciel Felizardo, funcionário acusado de ter sido o culpado da sua demissão. Houve um discussão entre os dois, onde Felizardo acabou agredindo Dequinha, que reagiu e jurou vingança.


No dia 17 de dezembro, Dequinha convidou José dos Santos, o Pardal, e Walter Rosa dos Santos, o Bigode, para, juntos, colocarem fogo no circo. Um dos comparsas chegou a alertar para a lotação esgotada e o risco de mortes. Porém, Dequinha manteve-se irredutível. O desejo de vingança falava mais alto.
Com cerca de três mil pessoas na platéia, faltavam vinte minutos para o fim do espetáculo, quando uma trapezista percebeu o incêndio. Em cinco minutos, as chamas consumiram completamente o circo. 372 pessoas morreram na hora, o restante foi morrendo, aos poucos, no hospital.


Uma grande comoção tomou conta do país e do mundo. Afinal, o incêndio tornou-se o maior do mundo em ambiente fechado até hoje. Da Argentina, vieram seis cirurgiões plásticos e oito enfermeiras do Instituto Nacional de Queimados, além de uma tonelada de medicamentos e material cirúrgico. A embaixada americana doou um estoque de antibióticos, ataduras e soro, e seu governo, em colaboração com a Cruz Vermelha, enviou 500 frascos de plasma sanguíneo.
O Hospital Antônio Pedro recebeu a maioria dos feridos. Por estar fechado havia vinte dias devido a uma grave, faltava de tudo para o seu funcionamento. Graças ao empenho dos órgãos públicos e da sociedade, em pouco tempo foi obtido um grande número de doadores de sangue, medicamentos, roupas, material hospitalar e comida. Todos os carpinteiros e marceneiros da cidade foram convidados a trabalhar e confeccionar caixões.


Cinco dias depois, Dequinha e os cúmplices foram presos. Dequinha foi condenado a 16 anos de prisão e mais seis de internação em manicômio judiciário. Bigode foi condenado a 16 anos de prisão e mais um de colônia agrícola. Por sua vez, Bigode foi condenado a 14 anos de prisão e mais dois em colônia agrícola.
Em 1973, um mês após fugir da prisão, Dequinha foi assassinado.


Cinquenta e dois anos depois, a tragédia de Santa Maria possibilita o debate sobre a segurança das casas de shows, a falta de uma cultura de prevenção e planejamento de tragédias e o grande senso de solidariedade do brasileiro, que em casos como esse, excede fronteiras.


Fica o desejo de que os (i) responsáveis sejam punidos e que possamos aprender com essa tragédia e, também, que se evitem novas catástrofes.

Fontes: Wikipedia e http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/tragedia-sem-fim