O Brasil acordou ontem
com a notícia da tragédia da Boate Kiss, em Santa Maria, no Rio
Grande do Sul. No triste evento morreram mais de 230 (o número pode
subir) e mais de 100 feridos. Fruto da nossa ancestral falta de
cultura de segurança, onde mostramos que só fechamos a porta depois
de roubado.
A tragédia de Santa
Maria foi o segundo maior incêndio em vítimas fatais do pais. O primeiro
lugar é ocupado pelo incêndio do Gran Circo Norte Americano,
ocorrido em 1961, em Niterói, Rio de Janeiro, onde morreram mais de
500 pessoas, na sua grande maioria crianças.
O circo chegou em
Niterói no dia 08 de dezembro de 1961, estreando uma semana depois.
Era tido como o maior e mais completo circo da América Latina,
dispondo de sessenta artista, vinte empregados e 150 animais. Foi
montado no centro da cidade, na Praça do Expedicionário.
A versão oficial é de
que a montagem demandava tempo e muita mão de obra. Foram
contratados cinquenta trabalhadores avulsos para a montagem. Um
deles, Adílson Marcelino Alves, conhecido como Dequinha, tinha
antecedentes criminais e problemas mentais. Ele trabalhou dois dias e
foi demitido pelo dono do circo, Danilo Stevanovich. Após o
ocorrido, Dequinha ficou inconformado e passou a rondar o circo.
No dia da estréia, o
circo estava com lotação esgotada e a venda de ingressos foi
suspena. Nessa noite, Dequinha tentou entrar no circo sem pagar, mas
foi visto e impedido pelo tratador de elegantes.
No dia seguinte, um sábado, Dequinha voltou e
começou a procurar Maciel Felizardo, funcionário acusado de ter
sido o culpado da sua demissão. Houve um discussão entre os dois,
onde Felizardo acabou agredindo Dequinha, que reagiu e jurou
vingança.
No dia 17 de dezembro, Dequinha convidou José dos
Santos, o Pardal, e Walter Rosa dos Santos, o Bigode, para, juntos,
colocarem fogo no circo. Um dos comparsas chegou a alertar para a
lotação esgotada e o risco de mortes. Porém, Dequinha manteve-se
irredutível. O desejo de vingança falava mais alto.
Com cerca de três mil pessoas na platéia,
faltavam vinte minutos para o fim do espetáculo, quando uma
trapezista percebeu o incêndio. Em cinco minutos, as chamas
consumiram completamente o circo. 372 pessoas morreram na hora, o
restante foi morrendo, aos poucos, no hospital.
Uma grande comoção tomou conta do país e do
mundo. Afinal, o incêndio tornou-se o maior do mundo em ambiente
fechado até hoje. Da Argentina, vieram seis cirurgiões plásticos
e oito enfermeiras do Instituto Nacional de Queimados, além de uma
tonelada de medicamentos e material cirúrgico. A embaixada americana
doou um estoque de antibióticos, ataduras e soro, e seu governo, em
colaboração com a Cruz Vermelha, enviou 500 frascos de plasma
sanguíneo.
O Hospital Antônio Pedro recebeu a maioria dos
feridos. Por estar fechado havia vinte dias devido a uma grave,
faltava de tudo para o seu funcionamento. Graças ao empenho dos
órgãos públicos e da sociedade, em pouco tempo foi obtido um
grande número de doadores de sangue, medicamentos, roupas, material
hospitalar e comida. Todos os carpinteiros e marceneiros da cidade
foram convidados a trabalhar e confeccionar caixões.
Cinco dias depois, Dequinha e os cúmplices foram
presos. Dequinha foi condenado a 16 anos de prisão e mais seis de
internação em manicômio judiciário. Bigode foi condenado a 16
anos de prisão e mais um de colônia agrícola. Por sua vez, Bigode
foi condenado a 14 anos de prisão e mais dois em colônia agrícola.
Em 1973, um mês após fugir da prisão, Dequinha
foi assassinado.
Cinquenta e dois anos depois, a tragédia de Santa
Maria possibilita o debate sobre a segurança das casas de shows, a
falta de uma cultura de prevenção e planejamento de tragédias e o
grande senso de solidariedade do brasileiro, que em casos como esse,
excede fronteiras.
Fica o desejo de que os (i) responsáveis sejam
punidos e que possamos aprender com essa tragédia e, também, que se
evitem novas catástrofes.
Fontes: Wikipedia e http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/tragedia-sem-fim