terça-feira, 7 de abril de 2015

Ao herói esquecido



Nas últimas semanas muito se falou sobre o copilot Andreas Lubitz. O início das investigações apontam que Lubitz foi o responsável pelo acidente com o A320 da Germanwings nos alpes franceses.

Todavia, outro nome foi pouco falado ou, talvez, esquecido. Capitão Patrick Sondheimer.

Não existem muitas fotos dele. Tampouco manchetes falando sobre ele. Mas Sondheimer era o comandante do voo 9525 naquele dia. Foi ele que deixou o cockpit para ir ao banheiro e em seguida foi impedido de retornar pelo copiloto.

Ao analisarem o CVR (a famosa Caixa Preta) do Airbus acidentado, os investigadores franceses ouviram os pedidos desesperados de Sondheimer para ter acesso ao cockpit. Todos sem resposta de Lubitz.

Foi ele que tentou arrombar a porta de acesso à cabine. Primeiro com os próprios punhos, depois com um machado. Infelizmente a mesma era eletronicamente selada, impenetrável.

O som de Sondheimer lutando contra a ‘’maldita porta’’ pode ser ouvido até o final das gravações, juntamente com a respiração normal de Lubitz, quando o avião finalmente atingiu as montanhas, partindo-se em inúmeros pedaços.

Capitão Patrick Sondheimer tentou desesperadamente salvar os passageiros e os tripulantes do voo 9525. Ele é um herói.

Casado, pai de dois filhos, Sondheimer era um piloto experiente com mais de 6000 horas de voo em A320. Após 10 anos de Lufthansa, ano passado juntou-se à Germanwings, que pertencia à gigante alemã.
Aqui vai a nossa homenagem a esse herói esquecido pela mídia. Também homenageamos outro piloto desconhecido, que fez o voo na mesma rota no dia seguinte. Ele cumprimentou cada passageiro e fez um discurso emocionado, dizendo que faria com que todos chegassem ao seu destino em segurança. Sua gentileza e conduta serão para sempre lembrados por aqueles passageiros que viajaram com medo.

São esses personagens que devem ser lembrados e enaltecidos todos os dias. Nosso singelo obrigado.

sábado, 26 de abril de 2014

40 anos da Revolução dos Cravos


‘’Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade’’.

Esses versos da canção Grândola, vila morena de autoria de Zeca Afonso, foram a senha para o início do movimento que posteriormente ficaria conhecido como a Revolução dos Cravos, que ocorreu há exatos 40 anos.

Antecedentes
Em 1926, um golpe militar institui a ditadura no país. Em 1933, Antônio de Oliveira Salazar assume o poder e institui o Estado Novo. Salazar governaria até 1968, quando sofreu uma queda e ficou incapacitado para governado. Em seu lugar assumiu Marcelo Caetano, que seria deposto pela revolução de 25 de abril de 1974.

O esgotamento do regime ditatorial ocorreu principalmente devido à crise econômica, principalmente em virtude da insistência em manter as colônias africanas, cujos movimentos em prol da independência consumiam o orçamento público e provocavam insatisfações nas forças armadas.

Em 1973, os militares já começaram a dar indícios de que preparariam um golpe de estado. Em março do ano seguinte, decidiu-se pelo uso da força para a derrubada do governo.

No dia 24 de abril, no Quartel da Pontinha, era instalado o comando do movimento. Às 22h 55m é transmitida a canção ''E depois do adeus'', de Paulo de Carvalho, pelos Emissores Associados de Lisboa. Este é um dos sinais previamente combinados pelos golpistas, que desencadeia a tomada de posições da primeira fase do golpe de estado.

cravo vermelho foi eternizado como  símbolo da Revolução, Reza a lenda que Celeste Caeiro, funcionária de um restaurante, iniciou a distribuição dos cravos pelos populares que os ofereceram aos soldados, que os colocaram nos canos dos fuzis.

Chico Buarque compôs a linda ‘’Tanto Mar’’ em 1975 para homenagear a liberdade portuguesa, enquanto o Brasil ainda vivia a sua ditadura, que só terminaria 10 anos depois.



sábado, 25 de janeiro de 2014

Tenente Rogers e sua incrível história








Recentemente assisti ao filme Caminho da liberdade (The Way Back, 2010), com Jim Sturgess, Colin Farrell, Ed Harris, dentre outros. O filme relata a odisseia de um grupo de prisioneiros de um Gulag na Sibéria que, em 1941, andaram mais de 6.500 quilômetros, passando pelo deserto de Gobi (Mongólia), Tibete e Himalaia, até chegar à Índia, no inverno de 1942. Embora no início do filme conste o aviso de que o mesmo é baseado em uma história real, fiquei intrigado e comecei a pesquisar sobre o livro que inspirou o filme.

O livro em questão é ‘’The Long Walk (1955) de Slawomir Rawicz, um polonês feito prisioneiro pelos soviéticos em 1941. Ao pesquisar no google,  li que em 2006, a BBC publicou um relatório baseado em antigos arquivos soviéticos, incluindo textos que teriam sido escritos pelo próprio Rawicz, mostrando que ele próprio teria sido libertado, em 1942, como parte de um acordo de anistia entre soviéticos e poloneses e em seguida teria sido transportado pelo Mar Cáspio até um campo de refugiados no Irã e, portanto, a fuga até a Índia nunca teria acontecido.

Em maio de 2009, Witold Glinski, um veterano de guerra polonês vivendo no Reino Unido, apareceu dizendo que a história de Rawicz era verdade, só que, de fato, teria acontecido com Glinsk ao invés de Rawicz. 

Enquanto se discute a paternidade de que realmente realizou o grande feito, acabei me deparando com uma estória parecida e  que conta a incrível saga de sobrevivência de um herói de guerra polonês durante a II Guerra Mundial e que morreu aos 91 anos, em fevereiro de 2013.

O Tenente Czeslaw 'Tony' Rogers enfrentou  uma viagem de 1.350 quilômetros a pé, através dos desertos gelados da União Soviética até à Índia depois de ser libertado de um gulag. Depois, andaria ainda mais, de trem e por outros meios, até chegar à Grã-Bretanha.

Posteriormente, ele seria um piloto condecorado da RAF, pilotando Spitfires  e bombardeiros Lancasters, voando em missões ousadas contra alvos na Alemanha.

Tenente Rogers, que adotou o sobrenome Inglês de seus heróis do cinema Roy e Ginger, entrou na guerra em 1939, quando seu país natal se tornou um alvo para a opressão após o pacto de não agressão entre Hitler e Stalin, que terminaria na invasão alemã.
 
Quando a Luftwaffe dizimou a frota aérea polonesa, pilotos como Rogers receberam  metralhadoras e foram convocados para lutar, em solo,  contra as forças alemãs que  invadiram o país pelo oeste, enquanto os russos avançavam pelo leste. Roger terminaria sendo feito prisioneiro pelos russos e enviado para um gulag na Sibéria, condenado a 25 anos de prisão.

O traslado para o gulag foi feito em  um caminhão de gado, em uma viagem que levou três dias.  Havia mulheres e crianças nos caminhões e sempre que uma criança morria no trajeto, seu corpo era simplesmente jogado na neve.

Após a invasão da Rússia por Hitler em 1941, Stalin aliou-se à Grã-Bretanha e aos EUA contra os alemães. O primeiro-ministro britânico Winston Churchill pediu a libertação de cidadãos polacos da Sibéria e Rogers foi um deles. Os guardas abriram os portões do gulag e disseram para os prsioneiros saírem. No início, eles pensaram que era alguma ‘’pegadinha’’  e quem  saisse seria abatido a tiro. Mas eles partiram em grupos de dez, em  trenós feitos especialmente para as condições climáticas adversas. No grupo de Tony ele e outro aviador sobreviveram, os outros pereceram na neve.

Tony e seu companheiro caminharam 830 milhas a pé, antes que pudessem entrar clandestinamente  em um trem indo para o sul, onde chegariam na Índia, de onde ele conseguiu passagem para a Grã-Bretanha.  
Vale destacar que um grande número de pilotos poloneses, após a invasão da Polônia, iria para o Reino Unido e França, continuar a luta contra os alemães. Em junho de 1940, o governo polonês no exílio formou  uma Força Aérea polonesa no Reino Unido, com dois esquadrões de caça - 302 e 303 - compostas por pilotos poloneses e pessoal de terra, com comandantes britânicos. A maioria dos pilotos poloneses possuia centenas de horas de experiência de vôo pré-guerra e estava entre os mais experientes na batalha. Eles haviam aprendido com a experiência de combate bem de perto.

Uma vez na Inglaterra, com o seu novo nome adaptado ao idioma local, Rogers conheceu Nan, uma motorista da WAF, que se tornaria sua esposa e mãe de seus dois filhos.

Durante o resto da guerra, ele voou em Spitfires da RAF antes de ser convocado para o Comando de Bombardeiros para pilotar o Lancaster por causa de sua experiência na Polônia em voar em aeronaves do tipo bimotor. Ele se juntou ao 138º Esquadrão de Operações Especiais (Moonlight Squadron), baseado em Cambridgeshire.
 
Em 1944, ele voou em uma missão de abastecimento em Varsóvia - em um Halifax ou Stirling - voando baixo para jogar suprimentos em  para-quedas, incluindo armas, explosivos e aparelhos de rádio em um locais estratégicos,  onde as luzes piscavam para indicar a localização exata. Caças alemães estavam à espera dos aviões  subirem, mas eles mantiveram o voo  baixo , porém  muitas equipes foram perdidas e as missões foram interrompidas depois de se revelarem muito arriscadas.

Os pilotos poloneses alegam terem abatido  201 aviões. Somente o 303º Esquadrão, em que o brigadeiro Tadeusz Sawicz serviu, foi o responsável pelo maior número de mortes - 126 – entre todos os esquadrões aliados na Batalha da Grã-Bretanha.

O Polish War Memorial, situado  nos arredadores da sede da RAF, em Northolt, foi inaugurado em 1948 como um tributo à contribuição polonesa  junto aos aliados.

Rogers continuou a servir no Comando de Bombardeiros voando em Lancasters  até 1948, quando passou para a reserva.  Estão registrados no seu assentamento funcional, 12.000 horas de voo em uma variedade de tipos de aeronaves, dentre elas os já citados Spitfires e Lancasters, além de Wellingtons e jatos Meteoro, após o fim da guerra.

Rogers seria agraciado com importantes comendas e a maior das condecorações polonesas, a Virtuti Militari. Além das medalhas, Rogers era sempre convidado de honra em jantares comemorativos da Batalha da Grã-Bretanha, onde sentava na mesa principal com o comandante.

No início de 1950, Rogers e sua família foram para Cingapura, onde ele assumiria o posto de piloto pessoal do General Sir Gerald Templer, Alto Comissário britânico na Malásia durante a insurgência comunista. Uma de suas atividades no novo posto era a de voar em aeronaves leves, tais como o Auster, para detectar atividades dos guerrilheiros na selva malaia, dando cobertura às tropas terrestres no combate.

Rogers acabou sofrendo um acidente vascular cerebral em que acabou perdendo os movimentos, sendo ajudado pelo  Fundo Benevolente da RAF que o presenteou com  uma cadeira de rodas elétrica. Rogers terminaria sendo um grande doador deste fundo visando ajudar os velhos companheiros de RAF.

Rogers faleceu em 15 de janeiro de 2013 na  Hyperion Nursing Home em Fairford, Gloucestershire.

sábado, 30 de novembro de 2013

Adeus Enciclopédia



O mundo do futebol perdeu, na última quarta-feira (27), Nílton Santos, considerado por muitos como o maior lateral-esquerdo da história. A ''Enciclopédia do Futebol'' como era conhecido morreu aos 88 anos, em decorrência de uma pneumonia. O grande lateral já vinha sofrendo de complicações de saúde, notadamente do Mal de Alzheimer.

Embora não tenha visto jogar, sempre o admirei pelo fato de simbolizar a era romântica do futebol. Época em que os jogadores jogavam simplesmente por amor à camisa que vestia. Nílton Santos só vestiu a camisa do Botafogo e da Seleção Brasileira. Pela equipe carioca disputou mais de 700 partidas, ganhando seis títulos. Pela seleção foi campeão mundial em 1958 e 1962, tendo ido às copas de 1950 e 1954.

Este ano revelou-se cruel para os grandes craques campeões mundiais pela seleção canarinho. Perdemos, além da ''Enciclopédia'', Djalma Santos e Gylmar dos Santos Neves.

Existem inúmeras estórias sobre a ''Enciclopédia''. Muitas envolvem o grande Garrincha, de quem era compadre. Transcrevo uma contada pelo brilhante Armando Nogueira, um dos maiores cronistas desportivos deste país:

" Era um amistoso na Cidade do México: Botafogo x River Plate. Garrincha estava estraçalhando o beque Vairo. Nestor Rossi, o maestro da seleção argentina, chamou o lateral do River e aconselhou:
- Quer melhorar teu futebol? Então faz o seguinte: ''aquele ali é o Nílton Santos, beque esquerdo como você. Vai lá perto, disfarça e passa a mão na perna dele. Só isso. Passa a mão que naqueles pés está o futebol de todos os beques do mundo''.

'' Tu, em campo,
   parecia tantos,
   E no entanto,
   que encanto
   Eras um só,
  Nílton Santos ''

     (Armando Nogueira)

Descanse em paz Nilton Santos

  

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

45 anos do fim da Primavera de Praga


A Primavera de Praga de 1968 é o termo usado para o breve período de tempo, em que o governo da Tchecoslováquia, liderado por Alexander Dubcek aparentemente queria democratizar o país e diminuir o poder que Moscou tinha sobre assuntos da nação. A Primavera de Praga terminou com a invasão soviética, a remoção de Alexander Dubcek como líder do partido e o fim das reformas na Tchecoslováquia.

Os primeiros sinais de que nem tudo estava bem na Tchecoslováquia ocorreu em maio de 1966, quando houve queixas de que a União Soviética estava explorando as pessoas. Aos poucos as pessoas na Eslováquia começaram a reclamar que o governo de Praga estava impondo suas regras sobre os eslovacos e diminuindo a  autonomia local. A economia fraca agravaou a situação e nenhuma das reformas que foram introduzidas funcionou. Os trabalhadores permaneceram em condições precárias de habitação e viviam o mais básico dos estilos de vida. O mesmo ocorreu na Tchecoslováquia rural.

Em junho de 1967, houve crítica aberta à Antonin Novotný, líder do Partido, no Congresso da União dos Escritores. Em outubro de 1967, os estudantes protestaram contra Novotný e no início de 1968, ele foi substituído como primeiro-secretário do Partido por Alexander Dubcek. Embora não tivesse almejado a liderança do movimento anti-Novotný, havia entregue uma longa lista de queixas contra ele (Setembro de 1967), Dubcek era a escolha óbvia.

No dia 5 de abril 1968, Dubcek iniciou um programa de reformas que incluía emendas à Constituição da Checoslováquia, que trazia de volta ao País um grau de democracia política e uma maior liberdade pessoal.
Dubcek anunciou que o Partido Comunista checo continuaria a ser o partido predominante na Tchecoslováquia, mas que queria que os aspectos totalitários do partido fossem reduzidos. Membros do Partido Comunista da Tchecoslováquia tiveram o direito de contestar a política do partido em oposição à aceitação tradicional de toda a política do governo. Os membros do partido tinham agora o direito de agir "de acordo com sua consciência". A partir daí esse movimento de reformas ficaria conhecido como "Primavera de Praga", em que eram  anunciados também o fim da censura e o direito dos cidadãos checos para criticar o governo. Com a abertura, os jornais aproveitaram a oportunidade para produzir matérias contundentes sobre a incompetência do governo e a corrupção que nele imperava. O  péssimo estado da habitação para os trabalhadores tornou-se um tema muito comum.

Dubcek também anunciou que os agricultores poderiam formar cooperativas independentes ao invés de seguir as ordens provenientes de uma autoridade centralizadaAos sindicatos foi dada ampla liberdade para negociar com os seus membros.

Dubcek assegurou a Moscou que a Tchecoslováquia permaneceria no Pacto de Varsóvia e que eles não tinham nada para se preocupar no que diz respeito às reformas.  Não precisa nem dizer que essas palavras não tranquilizararam o líder soviético Brejnev e na madrugada entre o dia 20 e 21 de agosto de 1968  tropas do Pacto de Varsóvia invadiram a Tchecoslováquia para reafirmar a autoridade de Moscou. A maior parte destas tropas eram da União Soviética, mas também foram enviados contigentes poloneses, húngaros, búlgaros e da Alemanha Oriental.  

Ficou claro que os tchecos não tinham capacidade para resistir à a invasão e, apesr de tudo, não houve derramamento de sangue, em contraste com o levante húngaro de 1956.

As reformas de Dubcek foram abandonadas. Ele foi preso e enviado a Moscou. Pouco tempo depois retornou ao seu país ainda como primeiro-secretário do Partido. Na sequência, seguindo determinação do Kremlin, Dubcek anunciou a suspensão de todas as reformas e em abril de 1969, foi afastado do cargo.

A Primavera de Praga provou que a União Soviética não estava disposta ou sequer cogitava a saída de qualquer membro do Pacto de Varsóvia. Os tanques que ocuparam as ruas de Praga reafirmaram para o ocidente de que os povos do leste europeu eram oprimidos e não viviam em  democracia como na Europa Ocidental ao passo que para o Kremlin assegurou a manutenção do Pacto de Varsóvia, considerado vital para a sobrevivência do comunismo na Europa como um todo.

Após deixar o poder Dubcek foi membro do parlamento e embaixador na Turquia até ser expulso do partido em 1970. Depois disso virou burocrata e foi trabalhar no serviço florestal. Só voltaria a vida política com a eclosão da Revolução de Veludo em 1989 que trouxe fim ao comunismo no país e inspirou o leste europeu a se redemocratizar.


quarta-feira, 8 de maio de 2013

O fim de uma era






Na manhã de hoje o Manchester United anunciou a aposentadoria de Sir Alex Ferguson no cargo de manager da equipe. É o fim de uma era, o fim de um ciclo. No referido cargo desde 1986, Fergie como é conhecido no Reino Unido, é o maior vencedor do futebol inglês e um dos técnicos mais vitoriosos da história do esporte bretão. É bom que se diga que na Inglaterra, o manager equivale ao gerente de futebol. Só que lá, dentre outras tarefas, ele monta o time e o respectivo esquema tático, delega tarefas à comissão técnica e ao departamento médico, acompanha as divisões de base, e é o responsável direto pela compra, venda e troca de jogadores.

O que dizer desse escocês de 71 anos que praticamente conquistou todos os títulos possíveis, ficaram faltando uma copa do mundo e uma medalha olímpica, mas isso nunca foi uma obsessão.

Nascido em Glasgow no dia 31 de dezembro de 1941, Alexander Chapman Ferguson, estreou no futebol como atacante aos 16 anos pelo Queen´s Park, modesta equipe escocesa. Lá ficou até 1960, marcando 15 gols em 31 partidas. Curiosamente, Ferguson só jogou na Escócia, atuando de 1960 à1964 pelo St. Johnstone,  Dunfermline Athletic (1964-1967), Glasgow Rangers (1967-1969), Falkirk (1969-1973), encerrando a carreira no Ayr United (1973-1974). Como jogador, atuou em 317 partidas e marcou 170 vezes.

A carreira de manager começaria logo quando pendurou as chuteiras. Em 1974, aos 32 anos fazia seu debut no East Stirlingshire, clube pequeno que nem goleiro dispunha naquela ocasião, ganhando 40 libras por semana. Em outubro desse mesmo ano recebeu o convite do St. Mirren que, embora estivesse em uma má fase, possuía uma estrutura bem melhor. Lá ficaria até 1978, montando uma equipe competitiva e ganhando a segunda divisão escocesa em 1977. Curiosamente foi o único clube a ter demitido Ferguson, um dos motivos foi o pagamento por fora aos jogadores.

Em junho de 1978, Ferguson assumiu o Aberdeen. Embora fosse um dos grandes da Escócia, só havia conquistado o campeonato nacional uma única vez, em 1955. Rapidamente a equipe chegou até as semi-finais da Copa da Escócia e da Copa da Liga Escocesa, perdendo em ambas as oportunidades. Na temporada seguinte 1979-80, foi vice-campeão da Copa da Liga, feito recompensado com o título nacional, quebrando uma sequência de títulos de Celtic e Rangers que se reversavam na hegemonia. Com o fim do jejum do clube, Fergunson ganharia mais 2 títulos nacionais (1983-1984 e 1984-1985), além do tetra da Copa da Escócia (1982-1983-1984 e 1986). Porém a maior conquista do clube viria na temporada 1982-1983, na Recopa, após eliminar o poderoso Bayern Munique, a equipe chegaria à final e venceria outro todo poderoso, nada mais nada menos que o Real Madrid (2x1).

Os feitos no Aberdeen logo chamaram a atenção de outros clubes dentre eles o Rangers, Arsenal e Tottenham. Em 1984 foi nomeado cavalheiro da Ordem do Império Britânico (OBE) ganhando o título de Sir. No ano seguinte era membro da comissão técnica da seleção escocesa sob o comando de Jock Stein, que veio a falecer após o dramático empate com País de Gales em 1x1, que assegurou um play off contra a Austrália para decidir a última vaga para a Copa do Mundo de 1986. Stein era uma espécie de mentor para Ferguson que o substituiu na disputa no México. A Escócia acabou caindo no chamado ‘’grupo da morte’’, ao lado de Alemanha Ocidental, Dinamarca e Escócia. A campanha escocesa naquele certame foi de duas derrotas (0x1 Dinamarca e 1x2 Alemanha)  e um empate (0x0) com os uruguaios.

Em novembro de 1986, Ferguson acabou aceitando o convite do Manchester United para substituir Ron Atkison que havia sido demitido. Quando assumiu a equipe estava na 21º colocação. A estreia foi com uma derrota por 2x0 para o Oxford United. Rapidamente o técnico disciplinador afastou jogadores beberrões e focou na melhoria da preparação física. O Manchester United terminou na 11º posição na temporada 1986-1987.

O primeiro título foi a FA Cup (Copa da Inglaterra) na temporada 1989-90 ao vencer o Crystal Palace por 1x0, quando todos davam sua demissão como certa. Na temporada 1990-1991, após o vice da Copa da Liga Inglesa, ao perder a final para o Sheffield Wednesday por 1x0, veio o título da Recopa (que reunia os campeões das copas nacionais da Europa e que não existe mais) ao bater o Barcelona por 2x1. Porém os críticos cobravam pelo fim do jejum de mais de 20 anos sem o título do campeonato inglês e o pressionavam a cada chance perdida.

Na temporada de 1991-1992 o United ganharia a Copa da Liga e a Supercopa Inglesa. O futebol inglês sofreu uma reformulação e com ela veio a Premier League. Após um bom ínício, a chance de título foi para o espaço e os campeonato foi para o Leeds United. As coisas começariam a mudar para valer quando o francês Eric Cantona foi contratado para a temporada 1992-1993. Após 26 anos de jejum, o Manchester United conquistava o título inglês.

Na temporada seguinte, após perder a final da Copa da Liga para o Aston Villa por 3x1,  o United foi campeão da Premier League e da FA Cup, após massacrar o Chelsea na final por 4x0. Em 1996 revelou uma geração de jogadores que ficou famosa: os irmãos Gary e Phil Neville, Nick Butt, David Beckham e Paul Scholes. Mas o ápice viria em 1999 quando a equipe faturou o Treble ou a Tríplice Coroa (Liga, FA Cup e a Champions League, após uma virada nos minutos finais contra o Bayern Munique). Uma segunda Champions viria na temporada 2007-2008 após vencer o Chelsea nos penais.

Famoso pelo temperamento forte, Sir Ferguson coleciona desafetos e momentos de explosão que ficaram famosos. Sua constante intimidação aos árbitros e o esporro nos jogadores foram apelidados de Hairdryer Treatment (secador de cabelo, pelo barulho que faz). Em 2003 numa dessas explosões no vestiário Ferguson deu uma bicuda em uma chuteira que acertou o rosto de David Beckham resultando em alguns pontos no supercílio do jogador.

Pelo Manchester United, Ferguson é o recordista de partidas. Ao todo foram 1498, com 894 vitórias, 337 empates e 267 derrotas, com os Devils marcando 2.762 vezes e sofrendo 1.359. A última partida será a 1500º,  contra oWest Bromwich Albion, no dia 19 de maio.

Após o anúncio da aposentadoria as ações do Manchester United chegaram a cair 4, 05% na bolsa de Nova York. As casas de apostas já indicam os mais prováveis substitutos dentre eles o técnico do Everton, David Moyes (favorito até o momento), o polêmico José Mourinho e o assistente de Ferguson, Mike Phelan.

Por fim, aqui vai os 49 títulos conquistado por Sir Alex Ferguson:



ST MIRREN
Segunda Divisão Escocesa (1): 1976-77.


ABERDEEN

Campeonato Escocês (3): 1979-80, 1983-84, 1984-85.

Copa da Escócia (4): 1981-82, 1982-83, 1983-84, 1985-86.

Copa da Liga Escocesa (1): 1985-86.

Recopa (1): 1982-83.

Supercopa Européia(1): 1983.

MANCHESTER UNITED

Premier League (13): 1992-93, 1993-94, 1995-96, 1996-97, 1998-99, 1999-2000, 2000-01, 2002-03, 2006-07, 2007-08, 2008-09, 2010-11, 2012-13.

FA Cup (5): 1989-90, 1993-94, 1995-96, 1998-99, 2003-04.

Copa da Liga (4): 1991-92, 2005-06, 2008-09, 2009-10.

Supercopa da Inglaterra (Charity/Community Shield) (10): 1990 (divida), 1993, 1994, 1996, 1997, 2003, 2007, 2008, 2010, 2011.

Champions League (2): 1998-99, 2007-08.

Recopa (1): 1990-91.

Supercopa Européia (1): 1991.

Copa Toyota (1): 1999.

FIFA Club World Cup (1): 2008.