domingo, 28 de agosto de 2011

O Dia Em Que O Mundo Explodiu



Lava laranja brilhante vomita no ar, uma fumaça negra se mistura com as nuvens e a noite sombria assume um nefasto brilho avermelhado.

Com uma força explosiva 13.000 vezes maior que a bomba atômica que aniquilou Hiroshima, a erupção do Krakatoa em 1883 matou mais de 36 mil pessoas e alterou radicalmente o clima global e as temperaturas por muitos anos depois.
Elevando-se a 365m acima da quietude tropical do Estreito de Sunda, na Indonésia, um dos vulcões mais terríveis que o mundo já conheceu, volta e meia dá sinais de atividade intensa.

Quase 126 anos depois da grande erupção o que restou do Krakatoa está borbulhando, fervendo e transbordando.

A erupção a que me refiro foi tão violenta e catastrófica que nenhum vulcão ativo nos tempos modernos, chegou perto de rivalizar com ele, nem mesmo a erupção espetacular do Monte St Helens, nos EUA em 1980. Agora, quase um século e meio depois, estamos prestes a vivenciar os horrores do Krakatoa mais uma vez?
Registros oficiais da época mostram que a erupção de 1883, juntamente com um enorme tsunami gerado por ela, destruiu 165 vilas e cidades, danificou seriamente umas 132 e matou mais 36.417 pessoas.

Os efeitos atmosféricos da catástrofe, como poeira e cinzas circundando o globo, causaram estranhas transformações na Terra, como súbita queda de temperatura e transformações no nascer e pôr do Sol por aproximadamente 18 meses e levando até anos para voltar ao normal. Todas as formas de vida animal e vegetal da ilha foram destruídas. Por causa das explosões, vários tsunamis ocorreram em diversos pontos do planeta. Perto das ilhas de Java e Sumatra, as ondas chegaram a mais de 40 metros de altura.

"A previsão de atividade vulcânica está ficando melhor", diz o professor Jon Davidson, catedrático de Geologia da Universidade de Durham e um vulcanólogo que estudou sobre o Krakatoa. "Mas nós nunca seremos plenamente capazes de prever erupções grandes e incomuns, simplesmente porque são incomuns’’, acrescenta.

Quase 150 anos depois, a região onde Krakatoa se localiza, que fica entre as ilhas de Java e Sumatra, no arquipélago indonésio, é uma das mais densamente povoadas, atraindo pequenos agricultores devido ao solo rico e fértil devido à atividade vulcânica da área. Não é nenhum mistério que centenas de milhares de pessoas poderiam ser mortas se ocorrer outra erupção de proporções gigantescas.O que se estuda atualmente é se há chance de que ocorra outra erupção tão devastadora do que a que ocorreu no século XIX.


O especialista em astronomia, cientista e vulcanólogo italiano Marco Fulle, 51 anos, de Trieste, já fez inúmeras imagens do vulcão. Fulle tem fotografado cometas e vulcões por anos.

"Esses vulcões tendem a repetir explosões como a de 1883 muitas vezes durante sua vida", diz ele. "A opinião comum é que Krakatoa vai voltar a ser realmente perigoso quando atinge o tamanho que tinha sido em 1883. O vulcão foi duas vezes mais alto do que agora."Não há garantia de que uma outra erupção não ocorrerá tão cedo.

Era a manhã de 20 de maio de 1883, quando um navio alemão, o Elizabeth, relatou ter visto uma coluna de cinzas e fumaça acima da ilha de Krakatoa.A última erupção conhecida havia acontecido há pelo menos 200 anos.Nos meses seguintes a fumaça, ruídos e expulsão de cinzas continuaram. Ao invés de evacuarem a área, os habitantes locais realizaram inúmeros festejos.

Tudo isso mudou logo depois do meio-dia em 26 de agosto, quando a primeiro de uma série de grandes explosões que enviaram detritos a 27km de altitude. Então, às 5:30 da manhã no dia seguinte, quatro enormes erupções lançaram dois terços da ilha ao mar.

"Foi uma potente mistura de magma e água do mar que fez a erupção tão explosiva", diz o professor Davidson. "A água tinha conseguido acessar a câmara magmática e o resultado fez a ilha em pedaços."

A sucessão de erupções e explosões durou 22 horas e o som da grande última explosão foi ouvida a cinco mil quilômetros, na ilha de Rodrigues, tendo os habitantes ficado surpresos com o estrondo, supondo significar uma batalha naval. Os barógrafos de Bogotá (próximo à antípoda do local da explosão) e Washington enlouqueceram. O barulho chegou também até Perth na Austrália, distante 1.900 quilômetros, bem como Filipinas e ao Sri Lanka, cerca de 4.500 quilômetros dali.

Acredita-se que o som da última grande explosão foi o mais intenso já ouvido na face da Terra e reverberou pelo planeta ao longo de nove dias. Todos os que se encontravam em um raio de 15 km do vulcão tiveram seus tímpanos rompidos e ficaram surdos.

A cratera do vulcão era monstruosa, possuía aproximadamente 16 km de diâmetro. O vulcão não parou de cuspir lava e houve ainda outras erupções durante todo o ano. Antes da erupção, a ilha possuía quase dois mil metros de altitude, mas após a erupção a ilha foi riscada do mapa, tendo-se um lago formado na cratera do vulcão, onde hoje vivem várias espécies de plantas e pássaros.

Muito mais devastador foi o tsunami que se seguiu. Em Java, a onda espalhou-se rapidamente para o interior. Na cidade costeira de Merak, um sobrevivente descreveu o momento em que a onda chegou na manhã de segunda-feira. "Vimos uma grande coisa preta vindo em nossa direção", disse ele. "Era muito alta, e logo vimos que era água. Árvores e casas foram levados. Houve uma corrida geral para subir nos lugares mais altos. As pessoas eram engolidas pela onda e desapareciam nela. "

Mais de 90 por cento das pessoas mortas por Krakatoa morreram no tsunami. Nos anos seguintes à erupção, a área em torno de Krakatoa ficou tranquila. No entanto, em 1927, vapor e pedra eram vistos borbulhando na água, e logo Anak Karakatoa - 'Filho de Krakatoa "- começou a emergir do mar.


Em novembro de 2007, o vulcão entrou em erupção novamente, porém foi por pouco tempo e os efeitos pouco foram sentidos.

Na primavera de 2009, no entanto, o Anak Krakatoa roncou novamente. As erupções tornaram-se tão intensas que iluminaram as nuvens e ocasionaram tempestades violentas.

Alguns, como Professor Davidson, são céticos sobre outra erupção potente acontecer em breve. "Não há magma suficiente", diz ele. "Ao invés de fazer previsões como essa, é a responsabilidade dos cientistas fazer o que puder para minimizar os riscos para aqueles que vivem nas proximidades. Isso é algo que estamos nos aprimorando’’.

O povo do Estreito de Sunda só pode esperar e rezar para que, desta vez, os cientistas estejam certos.

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