quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A Fúria do Nevado del Ruiz






O Nevado del Ruiz, localiza-se na Colômbia, região dos Andes,  constituindo-se no vulcão com atividade histórica mais alto e mais setentrional daquele país. Situado a 150 quilômetros de Bogotá, seu cume atinge 5.389 de altitude.

Apesar de estar localizado a apenas 500 quilômetros da linha do Equador, é coberto por um manto de gele e neve cuja área é estimada em 21,3 km2, com espessura variando entre 10 e 30 metros, com um volume aproximado de 337 milhões de m3.

Em 1984 o vulcão mostrou sinais intermitentes de atividade: sismos, fumarolas mais intensas e algumas pequenas explosões freáticas (emissão de vapor) na cratera de Arenas, no topo do vulcão, que se prolongaram pelo ano seguinte.

O vulcão, adormecido desde 1845, preparava-se para despertar.  No início de setembro de 1985 intensificou-se a atividade sísmica, culminando com explosões freáticas mais intensas.Porém, em novembro daquele ano viria a tragédia. No dia 10, iniciou-se uma nova onda de sismos. No dia 13, às 15:05, verificou-se uma forte explosão freática na cratera vulcânica. Embora, com frequência, o topo do Nevado del Ruiz não esteja visível devido à cobertura de nuvens, pessoas situadas ao norte do vulcão observaram uma grande coluna de fumaça saindo da cratera, que atingia grande altura.

Aproximadamente uma hora mais tarde, na cidade de Armero, localizada a uns 45 quilômetros da cratera, começaram a cair cinzas vulcânicas e o dia escureceu bastante, seguido pela chuva intensa. Todavia, os habitantes não entraram em pânico, já que havia mensagens tranquilizadoras tanto do prefeito, emitidas pelo rádio, como do padre, proferidas através do sistema de som da igreja, que instruíam a população a manter a calma e ficarem dentro de suas casas.
Apesar disso, a Cruz Vermelha, após uma reunião do Comité Regional de Emergência que terminou às 19:00, decidiu aconselhar as autoridades locais das cidades de Armero, Mariquita e Honda para prepararem a evacuação das populações. Parecia que as cinzas estavam parando de cair na cidade, fato que foi, por muitos, interpretado como tranquilizador. Porém, a chuva continuava a cair intensamente, provocando cortes intermitentes na energia elétrica. Provavelmente a soma destes fatores, associado à escuridão da noite que chegara, não tornou possível a evacuação da população. 

Entre 21 e 22h, duas violentas explosões lançaram para o céu colunas de até 8.000 metros de cinzas e fogo. O vulcão entrava em erupção, desencadeando uma sucessão de eventos catastróficos. O fortíssimo calor liberado derreteu camadas de gelo e neve, que engrossaram sobremaneira os rios nascidos no sopé da montanha. Formou-se então um gigantesco aluvião de lama, que se abateu furiosamente sobre as cidades de Armero, Libano, Chinchina, Fresno e Lerida, inundando uma área de 180 km2

Em Armero, a devastação foi total. Dos cerca de seus 50 mil habitantes, calcula-se que mais de 23 mil morreram e 25 mil ficaram feridos. Segundo relatos dos sobreviventes de Armero os sucessivos fluxos tiveram características diferentes, sendo o primeiro essencialmente aquoso e os seguintes cada vez mais densos e menos velozes. A maioria da população estava dormindo na hora que os fluxos de lama chegaram. 

O primeiro fluxo a atingir Armero, às 23:25, era constituído por água com lama, sendo a temperatura do fluído normal ou apenas ligeiramente fria. Tratava-se, provavelmente, da água da barragem que existia um pouco antes da cidade, e que foi destruída pelo rio de lama. Este fluxo, apesar de arrastar pessoas e carros, não atingiu grande altura, apenas tendo inundado a parte baixa da cidade apenas com alguns centímetros.

Porém, uns dez minutos mais tarde, veio o segundo fluxo, essencialmente do tipo fluxo de lama, que foi o maior e mais destrutivo, e que perdurou 10 a 15 minutos. Os sobreviventes referem que foi acompanhado por um rugido ensurdecedor. A altura atingida por este fluxo variou entre 3 e 6 metros. No hospital local o nível da lama atingiu os seis metros, tendo-se os sobreviventes refugiado no telhado, onde, durante toda a noite, caíram continuamente cinzas vulcânicas quentes misturadas com chuva. Nesta cidade o ar, com intenso odor a enxofre, era quase irrespirável. O rugido surdo provocado pela progressão dos fluxos no curso do rio Lagunillas continuou até de manhã cedo. 
Conhecida como ‘’a cidade branca da Colômbia’’, por causa das plantações de algodão e arroz, Armero se transformou num lodaçal cinzento. Da Igreja, a construção mais alta, sobrou apenas a torre. Somente o cemitério, situado no topo de uma colina, escapou ileso, juntamente com poucas casas situadas na parte mais alta.

Quando as equipas de socorro chegaram, no dia 14, depararam com o caos! O que viram foi uma massa confusa de pedras, árvores, restos de casas, carros e corpos mutilados integrados numa matriz de lama cinzenta. Alguns sobreviventes agonizavam nesta massa enquanto outras pessoas faziam tudo o que podiam para as salvar.
 
Dispersos no lamaçal estavam mais de 23 mil pessoas que tinham perecido, juntos com restos de 4500 casas que tinham sido destruídas e os corpos de mais de 15000 animais mortos. Os prejuízos financeiros foram estimados em mais de um bilião de dólares, ou seja, cerca de um quinto do Produto Nacional Bruto da Colômbia.
 
O símbolo da tragédia foi Omayra Shanchez, uma menina de 13 anos, que foi levada pelo lamaçal e ficou enterrada na lama até o pescoço, assim permanecendo durante três dias. Todos os esforços para salvá-la foram em vão, uma vez que estava presa por destroços e pelo cadáver da tia. As bombas que extrairiam a lama espessa que a envolvia só chegaram após ela ter sucumbido pela hipotermia e inalação de gases tóxicos.

A sua agonia foi seguida por milhões de telespectadores por uma equipe da Televisão Espanhola (TVE). Apesar de tudo, Omayra revelava um senso de humor notável e uma esperança irredutível, enviando mensagens de apoio para amigos e familiares, principalmente a sua mãe que estava ausente por ter ido a Bogotá, antes da catástrofe.

Fontes: 
Geologia Ambiental :   w3.ualg.pt/~jdias/.../NevadodelRuiz/NRuiz_1.html 
Revista Veja, edição 898, páginas 100 a 103, 20/11/1985

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