O Nevado del Ruiz, localiza-se na Colômbia, região dos Andes, constituindo-se no vulcão com atividade
histórica mais alto e mais setentrional daquele país. Situado a 150 quilômetros
de Bogotá, seu cume atinge 5.389 de altitude.
Apesar de estar localizado a apenas 500 quilômetros da linha do Equador,
é coberto por um manto de gele e neve cuja área é estimada em 21,3 km2,
com espessura variando entre 10 e 30 metros, com um volume aproximado de 337
milhões de m3.
Em 1984 o vulcão mostrou sinais intermitentes de atividade: sismos,
fumarolas mais intensas e algumas pequenas explosões freáticas (emissão de
vapor) na cratera de Arenas, no topo do vulcão, que se prolongaram pelo ano
seguinte.
O vulcão, adormecido desde 1845, preparava-se
para despertar. No início de setembro de
1985 intensificou-se a atividade sísmica, culminando com explosões freáticas
mais intensas.Porém, em novembro daquele ano viria a
tragédia. No dia 10, iniciou-se
uma nova onda de sismos. No dia 13, às 15:05, verificou-se uma forte explosão
freática na cratera vulcânica. Embora, com frequência, o topo do Nevado del
Ruiz não esteja visível devido à cobertura de nuvens, pessoas situadas ao norte
do vulcão observaram uma grande coluna de fumaça saindo da cratera, que atingia
grande altura.
Aproximadamente
uma hora mais tarde, na cidade de Armero, localizada a uns 45 quilômetros da
cratera, começaram a cair cinzas vulcânicas e o dia escureceu bastante, seguido
pela chuva intensa. Todavia, os habitantes não entraram em pânico, já que havia
mensagens tranquilizadoras tanto do prefeito, emitidas pelo rádio, como do
padre, proferidas através do sistema de som da igreja, que instruíam a
população a manter a calma e ficarem dentro de suas casas.
Apesar disso, a Cruz Vermelha, após uma
reunião do Comité Regional de Emergência que terminou às 19:00, decidiu
aconselhar as autoridades locais das cidades de Armero, Mariquita e Honda para
prepararem a evacuação das populações. Parecia que as cinzas estavam parando de
cair na cidade, fato que foi, por muitos, interpretado como tranquilizador.
Porém, a chuva continuava a cair intensamente, provocando cortes intermitentes
na energia elétrica. Provavelmente a soma destes fatores, associado à escuridão
da noite que chegara, não tornou possível a evacuação da população.
Entre 21 e 22h, duas violentas explosões
lançaram para o céu colunas de até 8.000 metros de cinzas e fogo. O vulcão
entrava em erupção, desencadeando uma sucessão de eventos catastróficos. O
fortíssimo calor liberado derreteu camadas de gelo e neve, que engrossaram
sobremaneira os rios nascidos no sopé da montanha. Formou-se então um
gigantesco aluvião de lama, que se abateu furiosamente sobre as cidades de
Armero, Libano, Chinchina, Fresno e Lerida, inundando uma área de 180 km2.
Em Armero, a devastação foi total. Dos cerca
de seus 50 mil habitantes, calcula-se que mais de 23 mil morreram e 25 mil
ficaram feridos. Segundo relatos
dos sobreviventes de Armero os sucessivos fluxos tiveram características
diferentes, sendo o primeiro essencialmente aquoso e os seguintes cada vez mais
densos e menos velozes. A maioria da população estava dormindo na hora que os
fluxos de lama chegaram.
O
primeiro fluxo a atingir Armero, às 23:25, era constituído por água com lama,
sendo a temperatura do fluído normal ou apenas ligeiramente fria. Tratava-se,
provavelmente, da água da barragem que existia um pouco antes da cidade, e que
foi destruída pelo rio de lama. Este fluxo, apesar de arrastar pessoas e
carros, não atingiu grande altura, apenas tendo inundado a parte baixa da
cidade apenas com alguns centímetros.
Porém,
uns dez minutos mais tarde, veio o segundo fluxo, essencialmente do tipo fluxo
de lama, que foi o maior e mais destrutivo, e que perdurou 10 a 15 minutos.
Os sobreviventes referem que foi acompanhado por um rugido ensurdecedor. A
altura atingida por este fluxo variou entre 3 e 6 metros. No hospital local o
nível da lama atingiu os seis metros, tendo-se os sobreviventes refugiado no
telhado, onde, durante toda a noite, caíram continuamente cinzas vulcânicas
quentes misturadas com chuva. Nesta cidade o ar, com intenso odor a enxofre,
era quase irrespirável. O rugido surdo provocado pela progressão dos fluxos no
curso do rio Lagunillas continuou até de manhã cedo.
Conhecida
como ‘’a cidade branca da Colômbia’’, por causa das plantações de algodão e
arroz, Armero se transformou num lodaçal cinzento. Da Igreja, a construção mais
alta, sobrou apenas a torre. Somente o cemitério, situado no topo de uma
colina, escapou ileso, juntamente com poucas casas situadas na parte mais alta.
Quando
as equipas de socorro chegaram, no dia 14, depararam com o caos! O que viram
foi uma massa confusa de pedras, árvores, restos de casas, carros e corpos
mutilados integrados numa matriz de lama cinzenta. Alguns sobreviventes
agonizavam nesta massa enquanto outras pessoas faziam tudo o que podiam para as
salvar.
Dispersos
no lamaçal estavam mais de 23 mil pessoas que tinham perecido, juntos com
restos de 4500 casas que tinham sido destruídas e os corpos de mais de 15000
animais mortos. Os prejuízos financeiros foram estimados em mais de um bilião
de dólares, ou seja, cerca de um quinto do Produto Nacional Bruto da Colômbia.
O símbolo da tragédia foi Omayra Shanchez, uma menina de 13 anos, que
foi levada pelo lamaçal e ficou enterrada na lama até o pescoço, assim
permanecendo durante três dias. Todos os esforços para salvá-la foram em vão,
uma vez que estava presa por destroços e pelo cadáver da tia. As bombas que
extrairiam a lama espessa que a envolvia só chegaram após ela ter sucumbido
pela hipotermia e inalação de gases tóxicos.
A sua agonia foi
seguida por milhões de telespectadores por uma equipe da Televisão Espanhola
(TVE). Apesar de tudo, Omayra revelava um senso de humor notável e uma
esperança irredutível, enviando mensagens de apoio para amigos e familiares,
principalmente a sua mãe que estava ausente por ter ido a Bogotá, antes da
catástrofe.
Fontes:
Geologia Ambiental : w3.ualg.pt/~jdias/.../NevadodelRuiz/NRuiz_1.html
Revista Veja, edição 898, páginas 100 a 103,
20/11/1985
Nenhum comentário:
Postar um comentário